segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Banalidades

E ela passou, afoita, por mim. 
Fiquei ali, sentada sobre o banco de madeira com sua pintura descascada, em plena Redenção, sendo invadida por mais pensamentos e teorias do que provavelmente conseguiria lidar.
Tinha lá seus vinte e poucos anos, e enquanto segurava o celular entre a orelha e o ombro esquerdo, dizia:

- …mas como assim? Ele é meu! Juro que a mato!

Bastou. Eu que desperdiçava meus neurônios em banalidades, era agora praticamente incumbida a especular o motivo que levara aquela moça a proferir tal frase. 
Porque é isso que acontece. Ação e reação. É completamente utópico dizer que cidadãos normais – não necessariamente membros de igrejas pentecostais – não observam, inquerem e especulam sobre a vida alheia. Comecei, então, a ponderar as possibilidades.
Pode-se supôr, pala maneira como a sentença fora verbalizada, que tratava-se de algum relacionamento afetivo frustrado. 
Mesmo que as tentativas de procurar algo dentro da bolsa ao mesmo tempo que falava ao telefone móvel estivessem bagunçando seu cabelo loiro, era uma moça deveras atraente. A provável existência de uma terceira pessoa na relação não iria ficar barato; e eu já estava a imaginar reportagens na Zero Hora sobre corpos de ex-namorados e suas amantes sendo fatiados e dados como refeição a cães famintos. 
Afinal, o ser humano não lida muito bem com a infidelidade, estando ele em qualquer um dos lados da situação. Ontem mesmo eu traí minha nutricionista com um pudim, e me senti uma verdadeira devassa.
Poderia também tratar-se de uma paixão platônica, de fato. Não há tristeza maior do que amar sem ser amado. Creio, inclusive, que nem no hino nacional haja clava mais forte que o desamor. Na próxima encarnação, quero voltar um cão sarnento, mas não um ser que ama e não é amado. 
A rapariga possivelmente estava disposta a tomar atitudes drásticas para com quem quer que interferisse em sua luta pela reciprocidade amorosa. A pessoa do outro lado da linha estava prestes a se tornar cúmplice de alguma inconstitucionalidade, e não fazia ideia.
Contudo, como seria o seu amado? Loiro? Moreno? Alto? Baixo? Será que seria contagiante, seu sorriso? Será que, ao menos, teria a arcada dentária completa? 
Minha vontade era de interromper a conversa da moça ao telefone, e perguntá-la, de uma vez por todas, o que a afligia.
Foi quando, a alguns metros de distância, a moça parou sua rota de súbito.
Começou, então, a fazer o caminho de volta, como se tivesse esquecido algo no local de onde havia saído. 
E eu ainda ali, sentada sobre o banco de madeira com sua pintura descascada, em plena Redenção, agora imaginando se conseguiria captar alguma informação ainda mais intrigante sobre a vida daquela jovem. Foi quando ela passou dizendo:

- Não posso acreditar que ela o tenha pego sem minha autorização. Aquele é o meu melhor chapéu!

Um chapéu. Nada de grandes amores, nada de assassinatos em série, apenas um acessório, uma coisa suplementar. 
Voltei, portanto, a desperdiçar meus neurônios em banalidades, pois, aparentemente, eu não era a única com tal costume.
Né?





* * *
Sessão #beijomeliga:
beijo pra mim mesma, me amo, me adoro, não vivo sem mim. uhahuaha :B
Modéstia? Não trabalhamos.


Sessão #subnick:

"Vai sim, vai ser sempre assim. A sua falta vai me incomodar."
(Luiza Possi)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Karaokê



Recebi um e-mail deveras intrigante. Anônimo. Dizia-se observador de nossos, meu e da catiléia Gabi, dons vocais.
Alegava ter visto-nos cantando loucamente em um Karaokê pela noite de Porto Alegre, e ficado extremamente incomodado com nossas perfomances.

Karaokê? Imagina se eu lá tenho cara de quem faz esse tipo de coisa.

Disse-me que estava, naquela noite, sentado em meio àquela família carismática e suas cervejas de colarinho. Amava Karaokês; onde mais haveria chance de expressar toda a sua vocação cantando Alexandre Pires? Suas músicas já eram rotina do estabelecimento. Virara praticamente uma lenda viva, um mito, um astro musical ansiosamente aguardado por todos os boêmios ouvintes.
Porém, aparentemente, numa noite de quinta-feira, duas meninas afoitas entravam porta adentro, com um sorriso bobo estampado no rosto; como que prontas para degladiar pela atenção do público. 
Sua intuição o alertou, no momento em que elas sentaram-se e começaram a procurar vorazmente Sandy&Jr pelo catálogo de músicas. Ali estava uma ameaça letal ao seu futuro na Calçada da Fama, ah se estava.
Confessou-me que ficara intrigado com as escolhas musicais das gurias. Já iniciaram a noite cantando Ana Carolina. Pensou por um instante e subornou uma das moças sentadas à mesa de trás, para que sugerisse-lhes “Garganta” só para observar a reação tomada. 
Dito e feito, as caminhoneiras aceitaram de primeira. Bando de chabironas.
Olhou para a mesa ao lado e avistou um simpático, e bastante amante da cevada, moço de seus quarenta e poucos anos. Pronto. Sua mente ambiciosa já traçou um plano para tomar das caminhoneiras toda a fama. 
O moço da mesa ao lado, de repente começou a receber bilhetes em anonimato, prometendo engradados de cerveja em troca de que cantasse, a cada dez minutos, uma música de Zezé di Camargo e Luciano.
Mas o páreo estava acirrado, elas não desistiam facilmente. Era “Quando Você Passa” atrás de “Fora da Lei”, “Cara Valente” atrás de “Elevador”. O simpático ceveiro tentava arduamente cantar “Pão de Mel” entre uma “Garganta” e outra, mas não estava dando muito certo.
O anônimo xingava-me no e-mail, acusava-nos, Gabi e eu, de roubar-lhe o espaço no mundo da música.
Reclamou que fazíamos muito vexame ao erguer os dois braços e balançá-los para lá e para cá, acompanhando o ritmo dos playbacks polifônicos de todos que cantavam qualquer música.
Reclamou que não tínhamos cara de dupla que se preze, uma gordinha, branquela de dar dó, enlouquecida e uma pretinha, do sorriso expressivo, psicodélica, cantando intensamente, como se a vida delas dependessem daquilo.
Reclamou também que não sabíamos a hora de parar. Depois de todos já terem ido embora, ainda acomodaram-se nas banquetas, e cantaram mais um pouco noite adentro.
Reclamou até que nossa voz era desafinada! Disse que nossos aplausos eram devidos, todos, ao nosso carisma. Essa eu juro que não entendi, Brasil.
Arrematou o e-mail xingando-me a valer, com palavrões e tudo que tem direito. Ameaçou-me inclusive. Disse que se retornássemos ao Karaokê, nossos corpos seriam encontrados, fatiados, dentro de sacos plásticos azuis, boiando pelo Guaíba, na manhã seguinte.
O que essa gente não faz pela fama.
Portanto, devido às circunstâncias, nem eu, nem a Gabi, nunca estivemos em Karaokê nenhum, inclusive, não sabemos nem soletrar essa palavra. 
Não cantamos, nem gingamos de Maria Rita, nem fizemos pose de Maria Gadú. Nego até a morte.





* * *

Sessão #beijomeliga:
Beijo pro gordinho do cinema. Desculpa aê, querido, não tava te assediando, não. É que nosso travesseiro de Doritos tava debaixo da tua cadeira. :B


Sessão #Subnick:

antedeguemon 


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Óde ao Chuveiro da tia Weiss



Caí de amores
Não pude evitar
Entre todas as dores
Preferi a de amar

Robusta e imponente
Tua figura me encantou
E assim tão de repente
Minh'alma capturou

Na tua banheira adentrei
E não quis mais sair
Meus pálidos pés mergulhei
 Tua água morna pude sentir

Ó Deus, deixe-me levar
Este chuveiro comigo
Mas com ele não posso ficar
Pois o meu, não quer ser  amigo

Quando o liguei com a mão
Pude sentir a intensidade
Das águas da paixão
Correndo sobre meus ombros com vontade

Seria capaz, ó, como seria
De adorar-te durante todo o dia
Aproveitando a magia
Do vapor de tua companhia

Mas nosso amor fez inimigos
Já posso sentir
Uma tal de Conta jurou-me castigos
Se de ti não desistir

Mas como poderei desligar-te
Se já estou apaixonada
Só tu fazes do meu xampú uma arte
Só contigo minha pele é bem lavada

Quão mornas são tuas gotas
Quão envolvente, tua corrente
Me perco no tempo sob tuas águas
Sob tua cachoeira fervente (-q)

Prometa, sim, para sempre me amar
Apesar dos pesares
Prometo não o trair
Com duchas d'outros lares.




Obs.: Nada vai nos separar, beibe. Nem conta do DMAE nem Aquecimento Global diminuirá nosso tempo juntos. 



Nota: Querido Chuveiro lá de casa, não fique chateado. Eu sei que você me ama, mas nossa relação não vai dar em nada.
Eu e meus romances com artefatos domésticos.





* * *


Sessão #beijomeliga:

Que viaaaagem, brasil. Beijo aê pra quem me fizer escrever algo que preste. :B
E beijo especial aos twitteiros de plantão que me ajudaram com as rimas! Pobrezinhos, juravam que era pra alguma coisa decente, dsc.


Sessão #subnick:

"Muita mutreta pra levar a situação. Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça. E a gente vai tomando que também sem a cachaça, ninguém segura esse rojão." ♫ 
(Chico Buarque)



domingo, 15 de agosto de 2010

Porto Alegre me tem, não diga a ninguém.



Porto Alegre é que tem um jeito legal, é lá que as gurias... vão ao cortecabelô.
Na realidade, foi isso que o Fogaça quis dizer, mas não coube na métrica.
Sempre faço questão de fazer algum comentário a respeito das minhas peripécias pelo centro de Porto Alegre. Porém, hoje, com a manhã que tive, me senti na obrigação de dedicar um texto inteiro a essa tão movimentada região da cidade.
Me flagro pensando se outros núcleos metropolitanos têm tanta personalidade quanto o nosso centro.
Certamente, igual a Voluntários da Pátria não há. 
Andando pelas calçadas cinzas, desviando-nos das pessoas em seus ritmos frenéticos, recusando - com muita cortesia, claro - às ofertas de vendedores de DVD-Mp3-e-Bluray piratas, estamos, nós cidadãos comuns, fazendo a nossa parte para deixar a cidade cada vez mais interessante.
Afinal, quão enfadonha seria uma cidade sem um Mercado Público como o nosso.
Não consigo imaginar minha vida sem a aventura envolvida em tentar escapar dos comícios políticos, ou até das rodinhas de espectadores de humoristas e seus apitos de gato.
E o que dizer, então, das famílias indígenas, com sua numerosa prole sujismundinha, cantando músicas em línguas desconhecidas, que provavelmente amaldiçoam até a sua terceira e quarta geração no caso da gorjeta ser pequena? Living la vida louca, caros leitores.
Cidade Baixa não é páreo para o Centro.
Quem precisa de badalação, gente interessante, barzinhos alternativos e muito glamourEu que não. Badalação mesmo é fugir de pombos-barra-ratazanas-voadoras pela praça Getúlio Vargas.
Aliás, não há gente mais interessante e glamurosa que os compro-vendo-ôro. Poderiam estar vendendo latão, mas optaram por comercializar um metal nobre da tabela periódica.
Nenhuma música eletrônica substitui o mantra dos valevalevale-men.
Bate-estacas? Passado. A onda agora é o bate-ombros. Você vai andando e esbarrando seus ombros pelos ombros das pessoas, e o ruído das clavículas sendo desconjuntadas forma um ritmo musical psicodélico. Baita vibe.
O Centro é o espírito de Porto Alegre. Um espírito cinzento, digamos. Tá, um Gasparzinho. Contudo, é aquilo que a mantém viva. 
Até porque, sem um centro, não há norte nem sul, nem leste e nem oeste. Sendo assim a cidade ficaria condenada a não mais ser dividida em zona norte e zona sul, deixando os entregadores de China In Box ainda mais perdidos e demorados. Seria uma desgraça, melhor mesmo é deixar a cidade como está.
Porto Alegre é, realmente, demais. 
Fogaça sabe o que escreve. E a gente, bem, sabe o que interpreta.





* * *

Sessão #beijomeliga:

Beijo pro clã mais fodapacaraleow de todos. Amo vocês de-ma-ais.
Beijo pro guri-do-que-momento! :D
Queridos (2) leitores, dêem uma passadinha no Que Momento! - Blog recomendado pela autora, ó, tinindo.


Sessão #subnick:

Ai, tchê. Vou é fazer a circulação sanguínea com o rim, que o coração aqui não tá servindo mais pra nada.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Irmãs



Inventei de prometer um baixo elétrico cor-de-rosa-com-gliter de presente para minha irmã, no caso de eu ser aprovada na prova - e agora ficou registrado aqui no blog, Jéssica palhaça.
As relações entre irmãs são engraçadas. Se odeiam, mas no fundo - ou não tão fundo - se amam. Ora abraçam-se, ora chutam-se.
Eu era muito pequena quando a Bianca, minha irmã, nasceu, mas reza a lenda que não gostei muito da idéia de ganhar uma irmã para ter de repartir a mamadeira cheia de Quick de morango.
A primogênita: Bochechuda. Branca. Franja preta quase cobrindo os olhos amendoados, muito expressivos. Monopolizadora de todo o carinho paterno. Até o momento, única possuidora das "bonecas da prateleira" (trilha sonora de suspense).
A recém nascida: Mais bochechuda ainda. Preta. Olhos cor de mel, dos bem açucarados. Dorminhoca, dorminhoca e dorminhoca. E a mais nova proprietária de todos os brinquedos, lápis de cor, canetinhas hidrocor e tamagoshis da família.
Ameaçador, não?
E mal sabia eu que nascia ali a responsabilidade que mais tarde me seria outorgada: a de transmitir a suprema sabedoria, fundamental à sobrevivência, herdada pelos pais. 
Manga e leite? Indigestão. Banho após o almoço? Morte certa. Caretas ao vento? Cara torta para todo-o-sempre. Graças a Jeová, a famosa dica 'se-tomar-banho-menstruada-fica-louca' foi abolida em 1978.
Memorizar coreografias de "Acere-rê rá derrê derrebetube rêbe seibi unôuba marrabi andebuidi andebuidi dipi" na festinha de fim de ano da escola ou ler "Tudo que uma garota deve saber" - ou dar uma espiadinha no "Tudo que um garoto deve saber" pensando que ninguém vai descobrir - são coisas que fazem parte dos ritos da pré-adolescência.
E todo mundo sabe que a irmã mais velha tem o dever de oferecer uma mão amiga neste processo tão delicado.
Mas irmãs mais novas deveriam ser menos malévolas. 
É claro que me lembro da Bianca batendo em todos os coleguinhas. Rá, não era prudente irritá-la, pra não levar um box. Perceptível ao olhar a saída do colégio: os menininhos com as costas avermelhadas tinham tentado alguma gracinha. 
E sabe o pior? Eles adoravam. A gente tem noção de que os meninos em uma certa idade têm um modo excêntrico de demonstrar interesse.
- Ei, dentuça! Ei! ei! Bobalhona! Lero-lero.
- Ai, guri idiota.
- Dentuçona! Dentusca! Feiona! Bobona!
- Sai daqui! Minha amiga tá me chamando, tchau.
Então, ele corre até o banheiro.
- Aah (suspiro)... ainda me caso com ela.
É.
Se alguém nessa vida tem 'sorte no amor', esse alguém é a Bianca. Sempre foi.
Sabe aquele primeiro amor? Aquele bobo que toda menina tem, seja ele platônico ou... é, platônico. O dela era recíproco. E digo mais! Haviam cartinhas de amor envolvidas. Chupessamanga. Que menino de 4º série manda cartinhas românticas nesse Brasildemeudeus?! No máximo colam bilhetinhos "me chute" nas costas da menina só para chamar a atenção e receber algum contato físico, nem que seja através de um tapa.
Bi, aceite meu conselho: Nunca jogue na loteria.
Apesar de termos pouca diferença de idade, tenho algo como um instinto protetor de irmã. Nada mais natural.
Descobri que sempre acabo me deixando extorquir, plagear e sendo chamada de feia - carinhosamente, é claro.
Minhas bonecas? Já estavam com os cabelos picoteados e pintados com tinta guache, mesmo.
Meu tamagoshi? Dsá, morria demais. 
Meu salário? No próximo mês tem outro. 
E ao menos uma das irmãs tem que que ter sorte no jogo, não é mesmo?





* * *
Sessão #beijomeliga:

Beijo pra Maria Rita que falou comigo no twitter :B
Quase tive um infarto do miocárdio.

Mariaritete forever S2



Sessão #subnick:

"Se ficar assim me olhando, me querendo e procurando, não sei não, eu vou me apaixonar."  
(Ana Carolina)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Caixa de Pandora - O Retorno






Sonhei que adentrava pelos corredores da Caixa Foderal, era atendida na hora e saía de lá com aquilo pela qual havia entrado para buscar em mãos. 
Logo depois, vinha a Maria Rita me pedir em casamento, e o Sílvio Santos me dizer que eu havia ganho um milhão de reais.
Por que, meu Deus? Por que é tão difícil se conseguir qualquer coisa nessa instituição?
Acordei pela manhã, com um sorriso tentando estampar-se em meio as bochechas inchadas do meu rosto. Ó, adorado dia cinco do mês. O dia em que eu, finalmente, receberia meu primeiro salário-da-vadiagem. Havia passando a semana toda planejando fiestas loucas regadas à Tequila para o fim de semana seguinte ao dia cinco. 
Não sei quanto a vocês, mas meu salário é elástico. Enquanto não o tenho em mãos, não paro de planejar destinos para ele.
Pareço até pobre quando vai à programas de auditório.

-Maoê! E o que a senhora pretende fazer com estes 5 mil, Maria?
-Ai, Sílvio, vou terminar de construir a minha casa, comprar uma máquina de costura para a minha mãe, um carro para o meu marido, e depois fazer uma cirurgia plástica no nariz com o restante do dinheiro.

Quando o salário vem, é que eu vejo que o buraco é mais em baixo, e que notas de cinquenta reais não se reproduzem se a gente colocar umas em cima das outras.
Ando adquirindo prática nessas burocracias trabalhistas; não sou mais presa fácil de atendentes perspicazes, loucos para ver-me frustrada por não portar os documentos necessários ao processo em questão. Agora, até pra comprar pão, levo identidade, CPF e carteira de trabalho. E as respectivas cópias.

Existe um clã maligno, caros leitores. Sim, a verdade é cruel. Recepcionistas do "Tudo Fácil", atendentes da Caixa e do Ministério do Trabalho, todos são adoradores de Satã, que venderam suas almas em troca de estabilidade financeira e meio turno da jornada de trabalho. 

Algum dia vou perguntar a um deles se vale a pena vender a alma para o diabo em troca de um emprego no governo brasileiro. Por que os boatos que correm pela boca do povo são bastante positivos.

Depois que se trabalha para o governo, não há mais possibilidade de demissão, o funcionário está livre para fazer o que bem entender. Para ser demitido é preciso praticamente matar um colega de trabalho. Mas na frente de todos, se matar de cantinho é só transferido para outra repartição. 
O pior é ter de admitir que, na real, é quase isso. É notável no olhar tenta-me-tirar-daqui-que-eu-sou-concursado-e-tu-não-filho-da-puta daquele pessoal da Caixa Federal.
Estava tudo dando certo durante o meu dia. Cheguei ao banco, entrei pela porta com detector de metais, me dirigi ao caixa eletrônico para sacar meu salário e... ué, não deu. Engraçado... tentei novamente. "Não há saldo em parcelas". Resolvi perguntar à moça de colete azul.

- Aqui diz que não foi depositado nada na sua conta, senhora. Agora, dirija-se ao SINE para ver o porquê disso.

Tradução: Querida, você se fodeu. Provavelmente vai demorar tanto para você colocar a mão na verdinha, que é mais fácil arranjar outro emprego.
Ok. Lá fui eu em direção ao SINE, averiguar o que estava acontecendo.
A minha vantagem nisso tudo, é eu não depender deste dinheiro para sobreviver. Se minha alimentação dependesse do governo, já tinha falecido por inanição. E faria questão de ressuscitar dos mortos, só para processar esses degraçados.
Chegando ao Sistema Nacional de Empregos, fui direto ao caixa para saciar minha sede de quaisquer informações. 

- Aparentemente, seu PIS está inválido. A senhora terá que entrar com um recurso ante o Ministério do Trabalho, e encaminhar a documentação toda novamente.

Tradução:Querida, agora sim, você se fodeu. Renderá uma trabalheira do capeta, e seu dinheiro esperará você precisar desesperadamente dele, para, muito depois, chegar.
Alguém, por favor me salve. Mãe! Manda eles pararem!
Ivolanda, ainda dá tempo de aparecer.
Ivolanda?




(vide post "Caixa de Pandora" para maiores esclarecimentos sobre o assunto: http://dancadamottinha.blogspot.com/2010/07/caixa-de-pandora.html )
* * *
Sessão #beijomeliga:

Beijo pra quem comentaaar aê :BB

E gente, perceberam a enquete ali do lado?
Leu? Clica ali!
Assim, posso ter uma noção do pessoal que passa por aqui :)


Sessão #subnick:

Sente só a profundidade da sessão #subnick de hoje...


"and I was like... baby baby baby, oooh"


Sacou? Éam... baita sentimentalista tou hoje.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Epifanias


Dois guris e uma gordinha enlouquecida, correndo portão adentro pela rodoviária, às dois para as quatro, atrás de um ônibus que saia às quatro horas.
Não poderia render nada menos que algumas epifanias inúteis Jessiquísticas.
Nem preciso comentar que na hora de sair de casa, tudo sumiu: o dinheiro da passagem, o casaco, o celular, os óculos, as calças, alguns neurônios, enfim.
Lembrei-me da vez em que fui, feito bandeira despregada, para Florianópolis atrás minha esposa (senta lá, Claudinha) Maria Gadú. Além de não levar protetor solar para um show à beira da praia, resolvi que iria de tênis e não levaria chinelos dentro da mochila. Sou muito inteligente, me admirem. Voltei completamente torrada, e com uma marquinha de caminhoneiro supimpa, por não ter levado roupas de banho nem tampouco ido de camiseta regata.
Primeira epifania: Sensações estou-esquecendo-alguma-coisa geralmente são verdadeiras.
Pela graça de Jeová, conseguimos embarcar no ônibus, já que o motorista havia dado uma paradinha para ir ao banheiro. Bendito sistema digestor.
As vezes me pego especulando como é a vida de um motorista de ônibus, sabe.
Provavelmente tenham família, que, a propósito, deixam em casa dias à fio. Me refiro aos motoristas de ônibus de viajem, obviamente. O salário deve ser bom pra compensar todo o tempo em que ficam isolados naquela cabine, que até plaquinha “não converse com o motorista” tem. Devem ter muito no que pensar, por que nunca os vi com algum iPod, botando pra quebrar num sertanejo universitário. 
Na real, já saquei todo o esquema. Como viajam muito, todos os motoristas têm várias amantes, uma(s) em cada cidade por onde passam, com as quais vivem loucas aventuras. Certamente são boêmios de primeira qualidade. Têm todos os bares do estado à disposição! Se você, caro leitor, é órfão ou, supostamente, teve seu pai morto brutalmente quando era pequeno demais para lembrar-se, provavelmente é fruto de atos carnais consumados pela sua mãe com algum funcionário da Unesul. Portanto, há pensamentos suficientes para algumas gerações de motoristas de ônibus.
Segunda epifania: a plaquinha “não converse com o motorista”, na realidade, só está ali para impedir que passageiros inconvenientes entrem na cabine e percebam a baita ressaca em que o motorista se encontra. 
Enfim, conseguimos chegar, os três, em Porto Alegre razoavelmente sem atrasos. O que foi um fato um tanto quanto singular, devido ao costume que o seu Matheus tem de arranjar uma maneira sobrenatural cósmica de se atrasar sempre que há oportunidade.
Algumas sequelas são geradas, toda vez que o visito. Uma delas pode ser facilmente notada com uma fita métrica e uma balança. Como se eu já não gostasse de comer tudo que me vem à frente, a dona Nita coloca toda aquela casa-barra-padaria à minha disposição, só para ver-me elogiar seus dons culinarísticos. 
Terceira epifania: não sei nem soletrar a palavra dieta na casa do Matheus.
Descobri também que a partir de um certo horário, não respondo pelos meus diálogos. Posso ser perguntada a respeito de qualquer coisa (medo), possivelmente a resposta será verdadeira. Ou será tão descaradamente mentirosa que a resposta real não será difícil de perceber. Acho que minhas células responsáveis pela sonolência são alcoolatras; partem do cérebro com a cachaça na mão, e quando chegam a invadir o organismo, já estão para lá de Bagdá. 
Quarta epifania: até meus neurônios são da manguaça. 
E nesse samba do crioulo doido que foi meu final de semana, me veio a quinta e mais importante epifania, não tão inútil, mas bastante Jessiquística: não vou conseguir fazer uma conclusão decente para este post. 
Se eu disser que adoro passar dias a fio falando merda à toa com meus amigos lindões, ficará muito clichê. Então, resta-me fazer algum trocadilho infame para a finaleira, ou alguma conclusão filosófica-sentimental a respeito da amizade eterna ou sabe-se lá o que. 
Como não consegui escolher entre as opções existentes, o texto fica por aí mesmo.
Ah, pára! Momentos epifânicos cansam a minha beleza.










* * *


Sessão #beijomeliga:
Beijo pro outro amigo mendigo que nós fizemos. 
Noutra vida devo ter sido uma sem-teto, só pode. Os mendigos gostam de puxar papo comigo. 
Tou vendo a hora que um deles vai me dopar e roubar meus rins.






Sessão #subnick:

Shimbalaiê com vo-cê  


     ;]