A noiva entra. Suspiros por todos os lados.
Obviamente, suspiros como-ela-está-linda, e não suspiros que-alívio-jurei-que-essa-ficava-para-a-titia.
Casamentos são tão inspiradores! Eu, ao menos os acho interessantíssimos. Está certo, com essa minha visão meio teoria da conspiração, tudo parece interessantíssimo. Adoro casórios.
O ritual começa bem antes, no corre-corre para achar a roupa ideal. No caso do casamento de anteontem à noite, ocorreram dois contratempos.
O primeiro foi eu perceber que minha excelentíssima irmã havia levado todos os meus apetrechos de cabelo para viajar, deixando-me assim, obrigada a ir à cerimônia com o cabelo só lavado e secado – com o meu secador ruim, o bom ela levou. Nessas horas eu agradeço por ter o cabelo liso.
O segundo contratempo foi eu perceber, só na hora de sair, o quão pálida eu estava. Estes vestidos de alcinha nos obrigam a colocar os mondongos à mostra, revelando quantos verões fazem que não pegamos um bom bronzeado. Quando olhei-me no espelho, pude contemplar minha sedutora cor de ricota.
Antes de sair de casa, é preciso estar psicologicamente preparado para rebater comentários infames a respeito da sua roupa, cabelo, ou status do relacionamento amoroso.
- Olá, querida! Anda sumida, hem?! E o maridão, como vai?
- Estou bem, estou bem... O João vai bem também, ao menos é o que diz a nova esposa dele.
Vejo eventos sociais em geral, como testes de civilização. Explico-me. Tudo, desde a maneira como andamos até a velocidade com que devoramos o prato principal do menu, está ali só para que manifestemos nossa civilidade e controle dos próprios impulsos.
Durante a cerimônia, fui seriamente tentada a atear fogo no penteado luxuoso que a senhora à minha frente ostentava. E parecia estar me provocando! Cada vez que me posicionava um pouco mais à direita ou à esquerda, ela movia seu coque gigantesco na mesma direção. Aquele coque estava olhando-me torto, petulante. Quase conseguia ouvir baixinho: “Ei, psiu! Vamos lá, eu sei que sua amiga tem um esqueiro”. Entretanto, mantive-me nos eixos. Passei no primeiro teste.
Chegada é a hora do jantar. Não há lugar mais apropriado para testar civilidades do que à mesa. À beira da mesa, o ser humano remete à sua natureza mais primitiva, como um neandertal diante de sua presa. Fica difícil não ceder aos impulsos instintivos diante de delícias gastronômicas iguais às que haviam naquele casamento.
Ao início da janta, a fome já batia insistente. Mas foi preciso manter-me firme. Veio a entrada. Olho para o seu conteúdo – de tamanho nem próximo do tamanho da minha fome – e resisto bravamente à tentação de perguntar ao garçom se não era possível entrar duas vezes.
Sempre imagino os garçons como agentes, zombeteiros, responsáveis por grande parte dos testes civilísticos. Não sei porque, mas tenho a impressão de que estão sempre julgando o que, quanto e como comemos. Se peço um refrigerante light, recebo um olhar “Rá, acha que não vai engordar, só por que pede refrigerante sem açúcar”, se peço um refrigerante normal, recebo um olhar “Dsc, é por isso que engorda”. Tenho até a impressão de que eles fazem parte de uma sociedade secreta, em que têm o registro de todos os cidadãos frequentadores de restaurantes e eventos gastronômicos guardados em seus arquivos. É uma máfia poderosa, mas isso fica para outro post.
Mas o que, no final das contas, nos diferenciará de primatas platirrinos, será o jogo-de-cintura nas relações com manobristas de estacionamentos de casamento. É na hora da gorjeta que seus bons modos são provados. Obviamente, não na quantia que será dada, mas sim, na sua reação à reação do manobrista. Você coloca os dois olhos na bandeja, mas recebe um olhar “tá, e essa orelha?” e é preciso manter a calma. A minha vantagem neste teste é que meu pai foi quem lidou com isso, desta vez - vantagens de quem vai à casamentos enganchada com o pai.
A noite ia chegando ao seu fim, e eu estava me saindo muito bem. Não havia ateado fogo em ninguém, nem roubado as sobremesas dos meus colegas de mesa (ainda).
Despedi-me do pessoal, e andei em direção à saída.
Porém, a mesa de lembrancinhas me aguardava. Bem-casados lindos e enfeitados. Mantenha a compostura, Jéssica: “ ...e não nos deixeis cair em tentação”. Tá, já mantive a pose o bastante. Coloquei trinta deles nos bolsos e sai correndo.
Mentira. Mas que peguei um para mim, e outro pro meu amigo imaginário, peguei.
Mentira. Mas que peguei um para mim, e outro pro meu amigo imaginário, peguei.
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Sessão #beijomeliga:
Beijo pro nosso (da Mah e meu) best mendigo maconheiro.
Ah, tá né. Hahaha :B
Sessão #subnick:
" Deus é um cara gozador,
adora brincadeira.
Pois pra me jogar no mundo
tinha o mundo inteiro,
mas achou muito engraçado
me botar cabreiro."
(Partido Alto - Cássia Eller)