terça-feira, 12 de outubro de 2010

"Clóvis 405"

Internet. 
Coisa bastante frequente nos meus últimos tempos de ócio, ou seja, sempre. A não ser, quando o meu sinal resolve ficar baixo, e eu não consigo captar direito, lá do meu quarto.
Num desses dias em que sou obrigada a mover-me para algum local onde há trânsito cibernético, percebi que o sinal do meu vizinho “Clóvis 405” está sempre em 90% quando não está em 100%. O meu, até chega a 80% no caso de eu sentar em cima do roteador, vestida de alumínio e com alguns pedaços de Bombrill enrolados no cabelo. 
De dentro do meu apartamento, a wireless dele consegue ser melhor do que a minha.


Isso não é justo. Que tipo de internet é a dele? 
Deve possuir um roteador muito potenteporque os apartamentos que ficam mais próximos do meu, estão praticamente todos vazios e à venda; conclui-se que o sinal do seu “Clóvis 405” possivelmente venha de outros andares.
Espio através da sacada o cotidiano de qualquer que seja o vizinho que deixar vãos nas janelas, para descobrir mais sobre a vida misteriosa desse fulano do roteador super-ninja.
Certa vez, estava eu, adentrando o elevador quando um homem, que não apresentava nenhuma característica muito discrepante da regularidade, começou a se aproximar, pedindo que eu o esperasse. Eu que já estava com meu dilema cibernético em mente, olhei-o de cima a baixo.
Discretamente, claro – quem me conhece sabe de meus dons de discrição. Quem não me conhece, já pode perceber que isso foi uma ironia absurda e eu sou tão discreta quanto um elefante numa loja de cristais.
Tinha barba, era alto e um terno muito bem passado escondia a camisa azul amarrotada com metade da gola para dentro do paletó. Um tanto grisalho. Magro, porém, a barriga redonda denunciava seu apreço pela cervejinha sexta-feireira. Aliança? Sim. Mas na mão direita. As pessoas ainda noivam hoje em dia? Pela meia idade aparente, era provável que ele esteja pelo seu segundo ou terceiro casamento. Chave do carro em mãos. Estava retornando do trabalho. Olhei para o relógio: 16h 30min. Muito cedo para ser liberado de trabalhos comuns; das duas uma: era cafetão, ou servidor público. Papéis do TSE em mãos. Servidor público, filho de uma égua – inveja mata, Jéssica.
Rá! Uma pasta de Notebook. O roteador mutante-super-desenvolvido só poderia ser dele.
Quando dei por mim, as portas já estavam abrindo-se. Ele desceu do elevador com um sorrisinho entredentes que expunha oque ele havia pensado a respeito de eu observá-lo. Até cheguei a considerar a hipótese de aproveitar o ensejo e ceder aos seus encantos, afinal, ele tinha dinheiro. E um emprego no TSE cairia bem. Além do fato de eu poder usar a internet dele em tempo integralMas não rolou.
Minha vontade era de entrar correndo apartamento dele adentro e somente ver com meus próprios olhos o porquê da internet deste indivíduo ser tão potente.
Na realidade está tudo ligado ao TSE. Todo mundo sabe que servidores públicos têm tudo o que desejam. Caminham sobre as águas. Comem e não engordam. Não choram em “Inteligência Artificial”. Eles, inclusive, estavam lá na gravação, e a Fada Azul se chamava Fada Verde, mas não gostaram da ideia e mandaram mudar. Aquele “Clóvis 405” provavelmente tem uma wireless do Governo, que até secreta deve ser.
Resolvi contentar-me com minha internet 40%. Num futuro, não tão distante, também serei servidora pública e também terei acesso a redes ágeis. Não se pode ter tudo na vida, não é mesmo?
Negativo, eu posso tudo. 
Saí desvairada elevador afora e roubei o tal roteador. Agora o tinha em minhas mãos. A desvantagem é que o Clóvis405-TSE, como todo o seu poder Jedi, tirou do bolso uma poke-bola e lançou um monstrengo pra cima de mim. Despreparada, sem minhas cartinhas do Yugi-yooh, fui derrotada. Agora estou morta passando este texto por criptografia, e o Xico Xavier está aqui do meu lado. Mas ele e garantiu que a wireless do “Nosso Lar” é muito boa.
Tá, mentira. Deixei o pobre homem sair do elevador tranquilamente e apertei novamente no número do meu andar.
Mas logo farei uma visitinha ao querido para afanar-lhe o tal roteador. Espera meu pokemon evoluir.






* * *

Sessão #beijomeliga:

beijo pra Maria Gadú, que é cada vez MAIS linda e mais querida comigo <3
Ai, amor de tiete pra sempre.




Sessão #subnick:

"Rapte-me camaleoa, adapte-me ao seu ne me quitte pas."
(Caetano Veloso)