quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ao tempo, com amor.

Então estava eu ali.
Adormeceu no meu colo, sabe? Cansado de tanto chorar. Acredito que não seja bem o choro que canse, mas a desesperança. O sono vem para amenizar, por alguns instantes, a dor que é eminente. E eu ainda estava lá. Passando meus dedos por seus cabelos, puxando-lhes a raiz; não sei, talvez no intuito de causar-lhe uma dor física suportável para fazê-lo lembrar que ainda as há.
Dormiu. Movimentos involuntários faziam-me tentar advinhar seus sonhos. Sonhava talvez com lugares paradisíacos, praias distantes de tudo, principalmente de problemas. Ou com melhores dias que os de hoje. Quem sabe até sonhasse em voltar no tempo para fazer tudo diferente, ou tudo igual, mas tirando o devido proveito de cada minuto.
Quem sabe o sr pudesse fazer tal concessão: voltar. Só peço-lhe alguns meses. Nada de anos ou eras históricas, questão de algumas semanas. Talvez isso resolvesse certas coisas.
Aliás, porque o sr não volta com mais frequência? Sou eu a primeira a pedir-lhe isso? Certamente não. Quantas catástrofes naturais ou corações partidos - com a devida ordem de importância, corações partidos e por último catástrofes naturais - seriam evitados?
Quem sabe o sr pudesse aliviar o destino. Causar alguma espécie de desencontro temporal. O sr volta, desencontra caminhos e ao longo dos meses as coisas permaneceriam como estavam.
Ou então avance. Assim, dias doloridos seriam deixados para trás, para que o sr possa fazer o que faz de melhor: mudar o foco das coisas.
Não é justo. Ouvi dizer que o sr cura, mas por favor, agilize-se.
Ainda dorme no meu colo. Quem dera eu o manter ali pra sempre, protegido, anestesiado.
Quase posso enxergar atravez da sua pele, a alma pura. Tão difícil de encontrar e tão passível a machucados. Sempre se dando ao todo e aceitando o pouco que os outros têm pra oferecer. Sociedade medíocre, utopiza o caráter pelo simples fato de não oferecer condições para sustentá-lo. Cultiva o belo, mas fura os olhos para negar-se a ver.
Sei que peço em vão. Um pedido tolo, tentativa desesperada de obter ajuda num processo que sei que não consigo ajudar em quase nada.
Porém, peço que venha em meu favor, pois vir contra mim será inútil.
Por mais que o sr, tempo, passe, meu colo continuará aqui. 
Imune a efemeridades como o sr.


Grata pela atenção, 
Jéssica.