Mentaliza: Rafael, criança, bochechudinho. Dançando.
Devidamente inserido numa fantasia de queijo. Rebolandinho na apresentação da
creche. Lindo, né? O tempo passou e ninguém deu falta da roupa de queijo,
depois que as bochechas diminuíram e o talento na música tomou a atenção de
toda e qualquer platéia. Há controvérsias a respeito das bochechas.
Uma
formatura como essa, obviamente, representa um marco bastante significativo do
crescimento profissional da pessoa. Se tratando do Rafael, interpreto como um marco
de evolução em geral. De criança direto
para a vida adulta, do mingau com aveia, para a granola com uva passa. Sem
puberdades, pães de mel, sem meios
termos. No momento da entrega dos canudos, ele deixou de ser um estudante de
música para se tornar um Músico. Assim, com letra maiúscula. Nas pesquisas de
opinião no centro de Porto Alegre, não vai mais dizer que é um estudante: é um
músico. Vai continuar inventando um número de telefone, mas a ocupação não
mentirá jamais! Questão de mérito. Música agora paga as contas.
Estando já
em fase adulta, essa vai ser uma coisa muito natural. Denise já não paga um Mc
Donalds no shopping, e nem deve. Bota na conta da música! Roupas, cabelo,
dentes, pele, unhas. Fecha tudo e põe no débito. Ouviu bem? Débito. Chega dessa
vida de estágios obrigatórios no Adventista cantando Paula Fernandes.
Jamais vou
esquecer de eu tentando acompanhar em segunda voz, a música do Trem de Ferro.
Muito bem lembrado, tentando. Certamente as crianças do colégio eram muito mais
afinadas do que eu. Bem ensinadas, é claro. Pelo Professor mais assediado pelas
pré-adolescentes. Chato ser lindo, né? Agora ficou ainda mais chato. Será lindo
e rico. O que não fará muita falta, sem dúvida, serão as pré-adolescentes. Mas
elas, com a fama, rapidamente serão substituídas por pessoas adultas de igual
comportamento, não é preciso se preocupar. A música do Trem de Ferro vai ficar
na minha memória, assim como a da Mandioca. Como não rir de uma música que diz
“pega na mandioca pra fazer farinha”? A turma toda, muito madura, acompanhava
seu Rafa Strey no riso frouxo. Coisas pueris, que fazem parte de todo esse
processo longo que é o amadurecimento. Pena que a partir de hoje, ele é um
Músico. E depois do “grande marco da formatura”, já sabem: Vai cantar a música
da Mandioca sem um sorrisinho besta no rosto! Se rir, perde o diploma.
Imagina que
alguém que no meio de uma festa vinha me pedir autorização pra dar estrelinha
na pista, hoje está se tornando um adulto responsável. Pedia como se eu fosse
me responsabilizar por quaisquer danos causados pela peripécia dentro da boate.
E iria mesmo. Que quebrasse toda a aparelhagem de som, pagaria. Que machucasse
seriamente todos as pessoas ao redor. Doaria um pouco do meu sangue para cada
uma delas. Num piscar de olhos. Justo eu, que não me responsabilizo nem pela
minha dieta, tomaria todos os riscos por ele.
Mentaliza:
Rafael e eu, assistindo o dvd da Paula Fernandes na casa do planalto. Comendo
alguma bobagem, que provavelmente eu não deveria comer, sentados em meio aos
edredons e as roupas dele bagunçadas
pela cama. Ele cantando, olhando pra ela, tão linda, sonhando com um autógrafo,
quem sabe entrar no camarim um dia pra conhece-la. A cena foi exatamente assim.
Sem tirar nem por.
Agora,
Rafa, mentaliza: Quem vai brilhar é tu. Sobe no palco, olha pro lado que a
Paula Fernandes tá te passando o microfone. Para de sonhar, que o sonho começa
no momento em que tu acorda, todo dia.
Que
profissional que tu te tornaste! Sempre zombou das minhas semínimas na pauta
que pareciam cerejas, e eu te escutava antes, um estudante, como te escuto
agora, com um diploma nas mãos. Pronto pra encarar o mundo com ele. É só um
papel, mas está separando a criança do músico, do cantor.
Eu sei que
quando tu ficares famoso, vai me apresentar o Chico Buarque. Na verdade só sou
tua amiga por isso. Só por isso tenho ciúmes, brigo, xingo e depois te levo
flores de surpresa nas tuas apresentações. Só pelo Chico mesmo, durmo na mesma
cama que tu, te fazendo cafuné eterno, com a maldade de duas crianças,
dividindo a coisa mais importante do mundo: confiança.
Tu foi o
primeiro a saber dos meus primeiros segredos, e único a saber dos últimos. Eu
não só sou uma criança, como pareço uma criança, quando to contigo, quando não
há o que eu não possa falar ou o que tu não vá ouvir.
Faço birra,
me jogo no chão, digo não quando quero dizer sim, só pra ter tua atenção. A
gente é besta quando ama, né? Faz dessas de ficar 12, 13 horas esperando de pé
em ídolos, só pra ver teu sonho realizado. Ou também quebra chaleiras de
cerâmica da tua tia, quando fica sozinha na casa dela, simplesmente pra testar
se a amizade sobrevive. Nunca ouviu falar? Eu que patenteei o teste da
Chaleira, em breve vai estar na Capricho.
Eu te amo
mais do que eu consigo colocar nesse texto besta, cheio de piadas sem graça e
ironias implícitas. Te amo com toda a minha verdade. Mesmo que a minha verdade
não tenha ainda um diploma de verdade absoluta, que tenha passado por um marco
muito significativo como uma formatura. Minha verdade ainda mente a idade pra
entrar na boate. Mas nunca deixou de ser verdade, e vai amadurecer, junto
comigo. E contigo.
Tu é um
Músico agora, e eu te desejo todo sucesso do universo. Pode mentalizar. E eu
juro que vou amadurecer pra acompanhar os teus passos.
Mas só se
tu correr mais que eu.
Quer
apostar? Quem chegar por último é a mulher do padre.
(Homenagem de formatura à mariudo, com todo amor, beajs!)
"Cuide de quem corre do seu lado e quem te quer bem, essa é a coisa mais pura."