segunda-feira, 11 de março de 2013

O último a chegar é a mulher do padre.


           Mentaliza: Rafael, criança, bochechudinho. Dançando. Devidamente inserido numa fantasia de queijo. Rebolandinho na apresentação da creche. Lindo, né? O tempo passou e ninguém deu falta da roupa de queijo, depois que as bochechas diminuíram e o talento na música tomou a atenção de toda e qualquer platéia. Há controvérsias a respeito das bochechas.
            Uma formatura como essa, obviamente, representa um marco bastante significativo do crescimento profissional da pessoa. Se tratando do Rafael, interpreto como um marco de evolução em geral. De  criança direto para a vida adulta, do mingau com aveia, para a granola com uva passa. Sem puberdades,  pães de mel, sem meios termos. No momento da entrega dos canudos, ele deixou de ser um estudante de música para se tornar um Músico. Assim, com letra maiúscula. Nas pesquisas de opinião no centro de Porto Alegre, não vai mais dizer que é um estudante: é um músico. Vai continuar inventando um número de telefone, mas a ocupação não mentirá jamais! Questão de mérito. Música agora paga as contas.
            Estando já em fase adulta, essa vai ser uma coisa muito natural. Denise já não paga um Mc Donalds no shopping, e nem deve. Bota na conta da música! Roupas, cabelo, dentes, pele, unhas. Fecha tudo e põe no débito. Ouviu bem? Débito. Chega dessa vida de estágios obrigatórios no Adventista cantando Paula Fernandes.
            Jamais vou esquecer de eu tentando acompanhar em segunda voz, a música do Trem de Ferro. Muito bem lembrado, tentando. Certamente as crianças do colégio eram muito mais afinadas do que eu. Bem ensinadas, é claro. Pelo Professor mais assediado pelas pré-adolescentes. Chato ser lindo, né? Agora ficou ainda mais chato. Será lindo e rico. O que não fará muita falta, sem dúvida, serão as pré-adolescentes. Mas elas, com a fama, rapidamente serão substituídas por pessoas adultas de igual comportamento, não é preciso se preocupar. A música do Trem de Ferro vai ficar na minha memória, assim como a da Mandioca. Como não rir de uma música que diz “pega na mandioca pra fazer farinha”? A turma toda, muito madura, acompanhava seu Rafa Strey no riso frouxo. Coisas pueris, que fazem parte de todo esse processo longo que é o amadurecimento. Pena que a partir de hoje, ele é um Músico. E depois do “grande marco da formatura”, já sabem: Vai cantar a música da Mandioca sem um sorrisinho besta no rosto! Se rir, perde o diploma.
            Imagina que alguém que no meio de uma festa vinha me pedir autorização pra dar estrelinha na pista, hoje está se tornando um adulto responsável. Pedia como se eu fosse me responsabilizar por quaisquer danos causados pela peripécia dentro da boate. E iria mesmo. Que quebrasse toda a aparelhagem de som, pagaria. Que machucasse seriamente todos as pessoas ao redor. Doaria um pouco do meu sangue para cada uma delas. Num piscar de olhos. Justo eu, que não me responsabilizo nem pela minha dieta, tomaria todos os riscos por ele.
            Mentaliza: Rafael e eu, assistindo o dvd da Paula Fernandes na casa do planalto. Comendo alguma bobagem, que provavelmente eu não deveria comer, sentados em meio aos edredons e as  roupas dele bagunçadas pela cama. Ele cantando, olhando pra ela, tão linda, sonhando com um autógrafo, quem sabe entrar no camarim um dia pra conhece-la. A cena foi exatamente assim. Sem tirar nem por.
            Agora, Rafa, mentaliza: Quem vai brilhar é tu. Sobe no palco, olha pro lado que a Paula Fernandes tá te passando o microfone. Para de sonhar, que o sonho começa no momento em que tu acorda, todo dia.
            Que profissional que tu te tornaste! Sempre zombou das minhas semínimas na pauta que pareciam cerejas, e eu te escutava antes, um estudante, como te escuto agora, com um diploma nas mãos. Pronto pra encarar o mundo com ele. É só um papel, mas está separando a criança do músico, do cantor.
            Eu sei que quando tu ficares famoso, vai me apresentar o Chico Buarque. Na verdade só sou tua amiga por isso. Só por isso tenho ciúmes, brigo, xingo e depois te levo flores de surpresa nas tuas apresentações. Só pelo Chico mesmo, durmo na mesma cama que tu, te fazendo cafuné eterno, com a maldade de duas crianças, dividindo a coisa mais importante do mundo: confiança.
            Tu foi o primeiro a saber dos meus primeiros segredos, e único a saber dos últimos. Eu não só sou uma criança, como pareço uma criança, quando to contigo, quando não há o que eu não possa falar ou o que tu não vá ouvir.
            Faço birra, me jogo no chão, digo não quando quero dizer sim, só pra ter tua atenção. A gente é besta quando ama, né? Faz dessas de ficar 12, 13 horas esperando de pé em ídolos, só pra ver teu sonho realizado. Ou também quebra chaleiras de cerâmica da tua tia, quando fica sozinha na casa dela, simplesmente pra testar se a amizade sobrevive. Nunca ouviu falar? Eu que patenteei o teste da Chaleira, em breve vai estar na Capricho.
            Eu te amo mais do que eu consigo colocar nesse texto besta, cheio de piadas sem graça e ironias implícitas. Te amo com toda a minha verdade. Mesmo que a minha verdade não tenha ainda um diploma de verdade absoluta, que tenha passado por um marco muito significativo como uma formatura. Minha verdade ainda mente a idade pra entrar na boate. Mas nunca deixou de ser verdade, e vai amadurecer, junto comigo. E contigo.
            Tu é um Músico agora, e eu te desejo todo sucesso do universo. Pode mentalizar. E eu juro que vou amadurecer pra acompanhar os teus passos.
            Mas só se tu correr mais que eu.
            Quer apostar? Quem chegar por último é a mulher do padre.



(Homenagem de formatura à mariudo, com todo amor, beajs!)

"Cuide de quem corre do seu lado e quem te quer bem, essa é a coisa mais pura."

sábado, 15 de dezembro de 2012

Peitos


 Às vezes eu, sentada mesmo, paro e olho pros meus peitos. 
Gratificantes, como diria um amigo meu, mas infelizmente não é só isso que eu vejo. Olho pra mim e só sobrou um ódio encolhido, tímido, reprimido pela decepção. Como se quem se decepciona tivesse preguiça de sentir ódio, simplesmente por não valer o esforço.
Lembro de não lembrar-me de como isso ficou tão arraigado em mim. De verdade, não lembro. Passei de estar empurrando cotidianos com a barriga para viver com a sensação que não há outro jeito de viver bem.
Até porque, convenhamos, bem é um status totalmente relativo.
 Eu, que penso de mais, me julgo bem, quando não vivo fugindo de um pensamento ou de outro, maior parte do tempo. Isso, pra mim, é viver tranquila. Problemas todo mundo tem! 
Eu, por exemplo, não julgo que ando vivendo na mais plena tranquilidade por estar fazendo dieta há meses, planejando o que como, ou não, o tempo todo. Isso não é vida, né. Agora, também não julgo como plena felicidade sair pra comprar roupas e elas me escolherem, ao invés de eu as escolher. Isso sim, certamente não é vida tranquila. Daí no contraste, prefiro contar uns pontinhos daquelas laranjas vermelhas menstruadas, certamente.
Há um desespero absurdamente interno em mim, tão sincero. Não sei o que fazer com ele. Resolvi que vou fazer uma dieta de desespero. 
Todos os dias eu conto pontos: mentiras equivalem a uns 15 pontos, indiferença, 10, egoísmo e imaturidade somam aí uns 25 pontos. Minha cota diária não passa de 20 pontos, pra mera sobrevivência e continuidade da dieta. Conclusão geral? Risos. 
Exato, a conclusão de tudo isso é rir pra não chorar. Não há como me manter, todos os dias, com essa cota tamanha de pontos, vou ficar gorda! Sentimentalmente gorda, inflada de desespero. E o desespero é deveras perigoso, amanhã ou depois vou precisar de uma ponte de safena de urgência por estar com as veias entupidas dele, por não conseguir dosá-lo durante os dias.
Do nada fui obrigada a lidar com tudo isso. Sozinha. Faz parte da vida, né? Não é porque eu jamais faria isso ou aquilo, com qualquer pessoa, que outras pessoas vão pensar como eu. As pessoas são diferentes. Cabe a mim, aceitar os fatos. Dar um jeito de encaixar tantos pontos diários em minha dieta de desespero. Um dia acaba, um dia. Vejo na minha frente esse rancho todo, ganhei essa cesta básica todinha pra mim, e todo o tempo vou consumindo, na esperança de que um dia acabe. 
E que outra cesta básica venha, mas uma light. Cheia de coisas novas, vindas de um super-mercado diferente. 
Aí, quem sabe eu viva bem. Aquela vida pretendida. Não uma vida de fuga. Não uma vida de escolher pensamentos que não me façam sentir como a pessoa mais idiota da face da terra. Escolher pensamentos a dedo, cansa. Preguiça do meu ódio, cansa. Ver que foi somente um ciclo que se repetiu, cansa demais. É no momento que mais preciso de férias e sorvete, me vejo cercada de cestas básicas pra consumir e dietas.
Viver assim, com o peito pesado, cansa. 
Mas isso é porque meus peitos são grandes demais, é claro.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ao tempo, com amor.

Então estava eu ali.
Adormeceu no meu colo, sabe? Cansado de tanto chorar. Acredito que não seja bem o choro que canse, mas a desesperança. O sono vem para amenizar, por alguns instantes, a dor que é eminente. E eu ainda estava lá. Passando meus dedos por seus cabelos, puxando-lhes a raiz; não sei, talvez no intuito de causar-lhe uma dor física suportável para fazê-lo lembrar que ainda as há.
Dormiu. Movimentos involuntários faziam-me tentar advinhar seus sonhos. Sonhava talvez com lugares paradisíacos, praias distantes de tudo, principalmente de problemas. Ou com melhores dias que os de hoje. Quem sabe até sonhasse em voltar no tempo para fazer tudo diferente, ou tudo igual, mas tirando o devido proveito de cada minuto.
Quem sabe o sr pudesse fazer tal concessão: voltar. Só peço-lhe alguns meses. Nada de anos ou eras históricas, questão de algumas semanas. Talvez isso resolvesse certas coisas.
Aliás, porque o sr não volta com mais frequência? Sou eu a primeira a pedir-lhe isso? Certamente não. Quantas catástrofes naturais ou corações partidos - com a devida ordem de importância, corações partidos e por último catástrofes naturais - seriam evitados?
Quem sabe o sr pudesse aliviar o destino. Causar alguma espécie de desencontro temporal. O sr volta, desencontra caminhos e ao longo dos meses as coisas permaneceriam como estavam.
Ou então avance. Assim, dias doloridos seriam deixados para trás, para que o sr possa fazer o que faz de melhor: mudar o foco das coisas.
Não é justo. Ouvi dizer que o sr cura, mas por favor, agilize-se.
Ainda dorme no meu colo. Quem dera eu o manter ali pra sempre, protegido, anestesiado.
Quase posso enxergar atravez da sua pele, a alma pura. Tão difícil de encontrar e tão passível a machucados. Sempre se dando ao todo e aceitando o pouco que os outros têm pra oferecer. Sociedade medíocre, utopiza o caráter pelo simples fato de não oferecer condições para sustentá-lo. Cultiva o belo, mas fura os olhos para negar-se a ver.
Sei que peço em vão. Um pedido tolo, tentativa desesperada de obter ajuda num processo que sei que não consigo ajudar em quase nada.
Porém, peço que venha em meu favor, pois vir contra mim será inútil.
Por mais que o sr, tempo, passe, meu colo continuará aqui. 
Imune a efemeridades como o sr.


Grata pela atenção, 
Jéssica.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Madame Bovary não sou eu

Medo de me descobrir e perder a inspiração. De me encontrar e me perder, sabe?
Criou-se uma aversão ao ordinário, ao usual. Não é de hoje, de fato, essa necessidade nas pessoas em ser únicas, insubstituíveis. Chega a ser assustador. Mais assustador, eu diria, talvez seja a proporção que isso tomou nos “tempos modernos”.
“Moderno” em si já é um conceito tão efêmero quanto minhas dietas. Tudo já foi moderno um dia, tudo um dia o será. Contudo, nada mais digno, não é mesmo? Pessoas têm o direito de rotular coisas do presente, “modernas”. É legal achar que se é inovador, faz bem ao ego, é divertido, até gera lucro, gira a roda da economia e etc.
Acredito que o mundo ter se tornado um enorme clichê tenha despertado esse sentimento de querer destacar-se, que é eminente nas pessoas. Há uma bagunça filosófica aí, pois o clichê generalizou de tal forma que quem não quer tornar-se um, acaba sendo por querer não o ser. Fugir do clichê se tornou o maior dos clichês! E até quem defende esse pensamento, como eu, acaba se tornando um clichê por não querer o ser, ao dizer que fugindo da própria fuga do clichê nos tornamos um. Entendem? Me perdi também.
Não sou diferente. Tranquilamente, sou como todas as outras.
Não sento, não rolo, não dou a patinha. Não faço pose de difícil, não gosto de Beattles e tenho mau hálito pela manhã. Sou normal e sem graça.
E o engraçado é que as pessoas, no intuito de destacar-se, inclusive, tendem a dizer que são sem graça pra diferenciar-se de todas as outras que o são, mas não dizem.
O fato é: sou normal mesmo! Não sou cult, nem nerd, nem hipster, sou Jéssica com CPF, RG, certidão de nascimento e alguns autógrafos da Gadú. Sou monótona, meus amigos são monótonos – mentira gente, cês são tri - meu blog é uma merda, pare de ler já!
E daí que todo mundo gosta das músicas que eu gosto? E daí que só eu gostava de fulano de tal e agora todos gostam. Não deixou de ser bom por ter popularizado, por deus, qual é o problema de vocês?!
Na luta para se tornar diferentes, que todos me parecem iguais. Cotovelando-se pelo destaque em meio a multidão.
Imagina que a raiz de toda a particularidade seja o defeito, a deformidade, a desregularidade.
Me flagrava pensando que a diferença estaria na perfeição, naquilo que é retilíneo, uniforme. Claro, partindo do princípio que a maioria esmagadora das pessoas é mais defeituosa que uniforme. O problema daí seria atingir a perfeição.
Uma alternativa seria ir acumulando pequenas perfeições.
Eu perfeitamente sei escovar os meus dentes. Eu perfeitamente sei fazer uma careta engraçada. Perfeitamente sei amarrar meus cadarços sem cantar a música do coelhinho. Perfeitamente sei falar demais. Perfeitamente sei não falar nada. Perfeitamente sei de cor a letra de “Águas de Março”. Perfeitamente sei chorar em filme. Perfeitamente sei não gostar de cachorros, nem de crianças, nem de velhos. Perfeitamente sei ser comilona, e gorda – pré-quase-semi-magra, é claro.
De perfeição em perfeição, poderia-se chegar a ser único. O problema seria, então, isso ser um tanto impraticável.
Defeitos ecoam, bem mais alto que qualidades. A particularidade, ao meu ver, está no erro, na falta, na ausência, no silêncio, na merda (mamãe, na merda).
A verdadeira particularidade. Aquilo que faz diferença. Uma diferença que faça, realmente, diferença. Uma diferença não-clichê. Não a roupa que usa, o lenço seu que é mais colorido que o meu, a sua música que é mais conceituada que a minha, seu humor que é mais ácido que o meu.
Quando a peculiaridade numa pessoa se tornar tão dela, que tudo nela envolvido remeter-me àquilo, aí sim, será uma diferença que eu darei valor; que acabarei concordando com o resto do mundo em apreciar essa tal particularidade, ou até mesmo em querer moldar-me a ela.
Não sei se cresci ou fiquei chata. Ou ambos.
Meu medo reside em acabar descobrindo meus defeitos mais profundos, saber consertá-los, e perder a identidade. Receio de mudar drasticamente. De me tornar irreconhecível, de ter de adquirir novas qualidades e aprender a vendê-las ao mundo. Não sei até que ponto consigo somar irreversibilidades sem déficit de Jessiquicidade.
Sei que por mais desconfortável que seja mudar, se for para evoluir, que seja. Quem não evolui, regride. Ficar estagnado é, sim, regredir.
Medo é particularidade? Não. Admiti-lo, talvez o seja.
Mas eu realmente tenho mau hálito pela manhã.


"... que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais."
(Como Nossos Pais - Elis)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pentelhos no Sabonete

Talvez uma das coisas que mais me tira do sério seja achar pentelhos no sabonete.
Não sei se está relacionado com o fato de eu frequentar o chuveiro com alguma periodicidade, e por isso tenha mais tempo para catar incômodos, ou o que. Mas todas as vezes que vou tomar banho, dou de cara com três ou quatro pêlos nojentos grudados no sabonete.
Dentre os motivos existentes, “o último usuário não notou que os havia deixado ali” é o que me é mais confortável acreditar. “O último usuário estava pouco se fodendo para o próximo” é o mais provável, enquanto “o último usuário deixou-os de propósito para se vingar de algo que eu fiz” seria se eu estivesse afim de armar um barraco.

Alguém por favor me explique qual a dificuldade em tirar os seus próprios resquícios do sabonete que acabou de usar? 
Sempre vai haver uma justificativa mais confortável para se acreditar.


Repasso, repasso e repasso a cena em minha mente. Nem sei porquê. 
Acredito que no intuito de naturalmente ir distorcendo os fatos até que eles se tornem um pouco mais agradáveis de se pensar. Continuo repassando tudo de novo e de novo, achando erros, criando acertos. 
Percebo que cansei quando meu cérebro arranja algo, dentro do contexto, muito supérfluo para se concentrar , como se aquilo representasse férias, umas férias neurológicas; como se desperdiçar neurônios tentando lembrar do que estava tatuado no braço daquela atendente fosse menos cansativo do que tentar tirar conclusões da situação toda. Tentar.
Não me satisfaço com conclusões que não me favoreçam. Não descanso enquanto não crio razões e subterfúgios para justificar tudo o que foi feito. E a conclusão tem de ser positiva.
Não há saldo devedor moral na minha conta. Nada de CERASA psicológica. Só lucros.
Penso que a verdade é dispensável. 
Quando o fato é imutável e o que me resta é lidar com ele, não vejo razão para me torturar com sinceridades implícitas. Aceito o que quero. 
Há pentelhos no meu sabonete! Há, e ponto final.
Minha vontade é de gritar até que venham os bombeiros tirá-los dali. Ou sair do banho, com o xampú na cabeça, criar uma máquina do tempo, invadir o banho do filho da puta e fazê-lo arrancar os próprios pentelhos à dentadas. Ou também guardar o sabonete debaixo do travesseiro até que a fada dos pentelhos venha e me faça rica.
Porém, o que faço é: fecho os olhos e coloco o sabonete na água corrente até que fique limpo.
Os pêlos se vão. E como surgiram já não me interessa. 


"Ficou difícil. Tudo aquilo nada disso. 
Sobrou meu velho vício de sonhar.
Pular de precipício em precipício, ossos do ofício.
Pagar pra ver o invisível e depois enxergar.

Que é uma pena, mas você não vale a pena."
(Não Vale a Pena - Maria Rita)