quinta-feira, 17 de março de 2011

Sono

No outro dia eu estava traindo minha cama com o twitter, e parei para pensar no péssimo hábito que eu estava - a essas alturas já havia adquirido há tempos - adquirindo. Estava trocando o dia pela noite.
O dia em que eu teria que começar a acordar cedo se aproximava e eu temi, do fundo da minha alma, não conseguir desabituar até lá. Obviamente, foi exatamento o que aconteceu.
Era madrugada do dia dezesseis, três e meia da manhã, e eu virava-me de um lado para o outro na cama. Não compreendo exatamente o porquê de insistirmos em achar que trocando de posição encontraremos o tal sono perdido pelos lençóis. 
Não sei se é pior não ter sono quando deveriamos ter ou ter sono quando deveriamos não ter. Na real, um acaba sendo consequência do outro. Minha insônia naquele momento provavelmente acarretaria um sono absurdo nos três períodos seguidos de física do dia seguinte.
Pra algumas pessoas a insônia acaba sendo produtiva.  O que é deveras interessante. Por exemplo, ouvi dizer que aquela música "Fireflies" do Owl City é resultado de uma noite mal dormida. Ou do crack. Ou ambos, mas enfim.
Cantores, compositores, poetas, todos são inspirados pela noite.
A mim, rele mortal, a falta de sono produz fome, inquietação e pensamentos na morte da bezerra.
Deitada eu penso. Penso demais. Penso abobrinha. Penso na roupa que vou vestir no próximo dia. De que é feita aquela minha camisa? Algodão? O algodão que está nas nossas roupas é aquele mesmo que a gente molha - no meu caso, enxarca - na acetona pra tirar o esmalte da unha? Isso dá em plantação, né. Uma plantação de algodão deve ser engraçada, imagino uma bolinha de algodão daquelas que vem no pacote da farmácia em cada raminho... tipo várias bolotinhas espalhadas pelo gramado. Que coisa eu nunca ter visto uma plantação de algodão, a gente se torna tão suburbano, tão bitolado, não é? No outro dia eu descobri que cebolinha não é uma cebola pequena.
Durante a madrugada eu viajo, filosofo. Posso facilmente ligar a crise de 1929 ao fracasso da minha última dieta. 
Eu estava ficando cada vez mais incomodada, quanto mais inquieta ficava, menos sono tinha. Porque isso brasil? Não é justo! Todos por Porto Alegre afora dormindo, e eu ali com os olhos secos, arregalados.
Ah, quer saber? Desisti, de uma vez por todas.
Fui até a sala, liguei o computador, coloquei os óculos, o fone de ouvido e fui ver Glee. 
Uma hora e meia depois acordei babando sob o teclado, com a bochecha quadriculada, mentalmente assassinando de vinte e cinco maneiras diferentes o filho da puta que inventou o despertador. Pensando em COMO alguém pode não ter sono algum dia na vida.
E dizem por aí também que a falta de sono afeta a memória, mas acho que não procede, né.


"Essa calma que inventei, bem sei, custou as contas que contei."
(20 Anos de Blues - Elis)