quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobrevivi

Hospitais são ambientes um tanto perturbadores, não sei ao certo o porquê.
Talvez sejam as paredes brancas, os corredores longos com portas dispersas, ou então a hipótese de morrer de infecção hospitalar enquanto faz um exame de sangue.
Ontem à tarde tive de ir ao médico, devido ao enorme desconforto que me tomava. Febre, talvez. Dor de cabeça horrível. Dores espalhadas pelo corpo. Nosso sistema imunológico é muito interessante; o que possivelmente fosse um resfriado comum, estava causando um tilt no organismo e me deixando totalmente prostrada. Resolvi que tomaria alguma atitude.
Primeiro passo a tomar quando se fica doente é comunicar à autoridade judiciária competente: minha mãe. Me vi, com dezenove anos na cara, chamando pela mamãe.
Se você, caro leitor, não gosta de frenquentar hospitais, consulte a sabedoria Jedi de dona Neila. Ela tem remédio pra tudo. Receitas caseiras para sanar desde gripe até Cancer. A gripe suína (H1N1) só foi controlada, por que minha mãe concedeu ao governo umas de suas canjicas milagrosas. Aidis? Moleza. Leucemia? Não me venha com pouca coisa. Minha mãe patenteou a Aspirina e o Paracetamol. Dizem as más linguas que ela tem 400 anos de idade, e que sobreviveu à Peste Negra, graças à colherada de mel com limão que toma todas as manhãs.
Resolvemos então que iriamos ao médico, pois “eu estava com todos os sintomas de sinusite”. Minha mãe, além de tudo, faz diagnósticos.
Chegamos, e já fomos encaminhados à sala de espera. Não consegui evitar: comecei a observar tudo.
É provável, caros leitores, que eu sempre acabe escrevendo sobre qualquer assunto como se o mundo conspirasse contra mim, com Illuminatis e tudo que tem direito. Porque, obviamente, sou uma pessoa egocêntrica.
Aquelas paredes brancas e longas me deixam muito perturbada. Não sei bem o que me lembram, mas tenho a nítida impressão de que as luzes vão apagar de repente e eu vou acordar no outro dia, mergulhada numa banheira de gelo em algum lugar da Tailândia, sem os rins.
Ninguém me tira da cabeça que médicos são assassinos-em-série profissionais, na real. Mas nada de Hannibal Lecter, me refiro a psicopatas de ultimo tipo!
Eles têm nossas vidas em mãos, meudeusdocéu. Se algum médico me disser que se eu aspirar a fumaça das erupções freáticas dos vulcões, ficarei curada da bronquite, é provável que eu vá.
Você pensa que vai fazer um exame de sangue regular, mas na realidade, aquele sangue dará origem à diversos clones super desenvolvidos seus que no futuro tomarão sua família, sua casa e sua conta bancária.
E a médica que vinha me atender tinha, sem sombra de dúvida, uma feição assassina.
Tinha o cabelo escuro, preso pra trás – primeira característica. Cabelos no rosto devem atrapalhar a concentração quando se está esfaqueando alguém.
Era bem gordinha e baixa. Certemente, excesso de carne humana na alimentação.
Seu andar era corcunda, e pendia para o lado direito. Não chegava ser manca, mas sua perna esquerda parecia pesar mais ao caminhar. É provável que ela seja destra, e use demasiadamente o pé direito para chutar corpos Guaíba adentro.
Meu nome, saindo dos lábios finos e enrugados daquela mulher soou um tanto fúnebre.

Jéssica Motta, a sua hora chegou.

Gelei.
Não havia qualquer outra expressão de vocabulário para utilizar naquele momento? É pra matar a ruiva do coração.

-Venha comigo.

Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino...
Nunca é tarde pra tentar ir para o céu, brasil.
Entrei na sala. Já estava paranóica. Via um estetoscópio com um instrumento de tortura, e o aparelho de medir a pessão como um uma bomba-relógio, pronta pra explodir a qualquer momento.
Mantenha a calma, Jéssica! Está tudo na sua cabeça.
A doutora mandou-me sentar para uma nebulização. Aquele gás branco me remetia à filmes sobre holocaustos. Olhei para a doutora: Nazista. Tive até a impressão de ter visto uma Suástica tatuada no pulso. Ainda por cima viu minha pulseirinha do arco-íris. Tou fodida.

-Estenda o braço.
-Oi?
-Estenda o braço, para que eu possa dar lhe o antibiótico na veia.

Oi? Agulhas? Ai, Cristo.
Olhei para aquela seringa e já vi tudo. Iam me aplicar um boa-noite-cinderella direto na veia e vender meus órgãos no mercado negro.

- O que é isso no seu pulso?
- É o nome da minha filha, tatuado - respondeu, toda sorridente.
- Mas em formato de Suástica?
- Quem?
- Deixa pra lá.

O psicológico é algo fora do sério. Juro pra vocês que até me senti meio tonta depois que me injetaram o antibiótico. Deu barato... deu barato. Era do bom.

-Prontinho. Já está liberada.

Acabou? Ah, como eu sou dramática. Estava já saindo do consultório viva, com todos o membros no devidos lugares e sem cicatrizes.
Foi quando a doutora colocou um saco plástico na minha cara, enquanto a enfermeira acorrentava meus pulsos e me puxava de volta para a sala.
Mentira. 
Deu tudo certo mesmo, estou viva, linda e absoluta.





* * *
Sessão #beijomeliga:

beijo pra vocês, seus lindos! <3


Sessão #subnick:

"Quando bate a saudade, corro pro mar. Fecho os meus olhos e sinto você chegar."
(A Estrada- Cidade Negra/Maria Gadú)


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Jogo dos Sete Erros

No outro dia eu estava aproveitando a breve duração do meu salário, dando verdadeiros circuitos atléticos pelo shopping, apressando-me de loja em loja com o objetivo final – e teoricamente inconsciente – de findar o dia sem um tostão no bolso.
Tive a infeliz ideia de levar minha irmã – que quando está comigo sofre crises de identidade e começa a responder pelo nome de Paola Bracho, usurpando todos os meus direitos de responsável pelo esbanjo do meu dinheiro.
Parei pra comprar-lhe um sorvete, e tive um breve momento de epifania: eu estava simplesmente cometendo todos os erros que uma pessoa seria capaz de cometer no seu dia mais feliz do mês. Estava praticamente caminhando em direção à falência, em passos largos aproximando-me do fracasso financeiro. 
A desgraça já estava engatilhada e eu já começava contabilizar os prejuízos e planejar como lidaria com eles mais tarde.
Saí do Mc Donnald's - já com cinco ou seis reais a menos - em alerta, e diria até, um pouco arisca. Caminhava cabisbaixa, amedrontada pela hipótese de ser surpreendida por vendedoras simpáticas, repletas de más intenções. Mal olhava para os lados, como se o Shopping houvesse virado uma selva amazônica e eu, uma turista indefesa prevendo minha morte diante dos perigos eminentes.
Minha irmã mal sabia de tal dilema mental e filosófico pelo qual eu estava passando, e por isso ela mantinha os mesmos passos serelepes no seu ritmo. Desvirtuei-me de meus pensamentos e observei-a.
Este foi meu primeiro erro. Ter trazido-a. Aquela versão brasileira Herbert Richers de Usurpadora seria, certamente, o ultimo empurrão abismo abaixo do penhasco da falência financeira.
Mal tive minutos suficientes para analisar minhas ideias decentemente, deparei-me com uma daquelas lojas de doces caríssimas. Segundo erro. Quando não se quer gastar passa-se longe – leia-se, muito longe – de lojas coloridas e chamativas como essas. Acaba-se saindo de lá com um saquinho ridículo de marshmellows cor-de-rosa em mãos, juntamente da certeza de que a fatura do cartão de crédito atormentará seu sono durante o restante do mês.
Rapidamente parei meu rumo e voltei-me na direção contrária àquele Happy Place do anti-Cristo. Obviamente, preparei a chave-de-braço que em segundos daria no pescoço roliço da Bianca. Ué, num instante ela já não estava mais ali. Gelei dos pés até o último fio cobre – leia-se, pobre – do meu cabelo. Não recordo de sentir tanto medo ao voltar meus olhos em direção a algo, desde “Contato de Quarto Grau”.
Respirei fundo e olhei. Terceiro Erro. Certamente se eu a tivesse abandonado ali, hoje não estaria aqui matando, roubando e fazendo shimbalaiê. Deveria sim, ter aproveitado a ausência do pescoço dela em minha chave-de-braço e transformado a energia já despendida, num impulso para começar a correr loucamente em direção ao horizonte.
Contudo, infelizmente, virei-me e olhei. Uma cena difícil de colocar em palavras do bom Português. Enxerguei exú na minha frente. A Bianca havia se empuleirado nas prateleiras e estava agora a encher sacolinhas de chicletes coloridos, como se ela dependesse daquilo tudo para mera sobrevivência. Corria de um lado para o outro, cada vez que avistava um novo sabor que ainda não havia esperimentado. Seus olhos estavam consumidos pela cobiça. Enquanto as vendedoras deliciavam-se na pesagem das singelas compras, eu tirava da bolsa alguns itens básicos para lidar com a minha irmã em Shoppings: algumas folhas de arruda, sal grosso, e um pedaço da cruz de Jesus que eu ganhei de brinde em minha ultima visita à igreja Universal.
O quarto erro foi eu não ter me prevenido e passado num passe-gospel dos 318 homens de Deus antes de chegar ao Shopping.
O estardalhaço na minha conta bancária estava ainda mais feito. Paguei a conta e saí daquele ambiente o mais rápido que minhas pernas curtas conseguiram.
Considerei – não por mais de meio segundo – a hipótese de ir comprar um tênis novo que eu precisava. Chacoalhei a cabeça na tentativa de livrar-me dos maus pensamentos, e decidi que iria diretamente para casa. Estava exausta.
Meus erros me ensinaram que salários intactos não podem aproximar-se de irmãs caçulas. Nunca.
O porquê do título “Jogo dos Sete Erros”? Oras, não existe “Jogo dos Quatro Erros”. Dã.






* * *
Sessão #beijomeliga:

beijão estalado pro Rafa, aniversariante do mês!
lol
Já dei parabéns umas 34567 vezes, mas fazer o que quando a pessoa faz uma comemoração de aniversário parcelada em 5x sem juros
Te amo, meu veado mais lindo, MOITO. <3



Sessão #subnick:

"Viver tá me deixando louca, não sei mais do que sou capaz."
(Maria Rita DIVA)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Um Centavo

Pedro Álvares Cabral. 
É dele o rosto estampado nas moedas de um centavo. Certamente uma sacanagem que o Banco Central resolveu fazer com o pobre fidalgo português.
Se eu tivesse meu rosto estampado numa moeda de um centavo, mandava colocar uma tarja preta atravessada na minha fronte. O falecido deve estar remexendo-se no caixão, louco para sair colando fita crepe nas moedas pelo Brasil.
Longe de mim ser preconceituosa, mas quem dá valor a um centavo, hoje em dia? Até as lojas de um-e-noventa-e-nove desprezaram o último centavo do seu lucro.
É aquele troco que você nem faz questão de receber. Ou pior: faz questão de não receber para não ocupar espaço na niqueleira.
Pobrezinho do um centavo, está, muito possivelmente, com traumas emocionais e tomando antidepressivos tarja preta.
Por esta razão, resolvi aceitá-lo. Tomei uma decisão na minha vida: não mais irei repudiar os retratinhos em bronze do Pedro Alvares Cabral. Guardá-los-ei todos. Atendentes das Americanas não mais lograrão meu troco de um centavo; nem tampouco os vendedores de algodão doce da redenção.
Afinal, já dizia o velho ditado: de centavo em centavo a Jéssica enche o bolso. Ou algo semelhante.
Se cada cidadão do planeta me presenteasse com uma moeda de um centavo, eu ficaria rica. São aproximadamente 7 bilhões de pessoas, faça a matemática.
Portanto, reuni aqui algumas razões pelas quais todos os cidadãos deveriam me dar um centavo e me fazer milionária.
O primeiro motivo é: o meu cabelo é legal. Todo mundo sabe que quem cuida do cabelo, merece ser muito rica.
Segundo motivo: preciso ser rica para correr atrás da Maria Gadú e da Maria Rita. Shows aqui em Porto Alegre, ocorrem de ano em ano, e olhe lá! Então, eu, como fã tiete enlouquecida, sairei de avião particular atrás de minhas divas. Claro, com direito a acompanhantes, escalas de vôo em pontos turísticos brasileiros, jantares caríssimos em restaurantes com maîtres antipáticos.
O terceiro motivo é que, eu sendo muito rica, colocarei a Nise Palhares de volta no Ídolos, e de quebra, a convencerei a casar-se comigo. Banco gravações caras em estúdios, lançamentos de cd's de encarte colorido, entrevistas no Altas Horas e tudo que tiver direito.
O quarto motivo é que, poderei bancar a edição de um livro só meu. Para depois, poder comprar dezenas de cópias, somente com o intuito de fazer volume no número nas vendas.
O quinto motivo é que poderei contratar um assassino profissional e matar o Luan Santana, de verdade e não só nos TT's do twitter.
O sexto motivo é eu comprar um chuveiro novo. A gás. Enorme. Quente. E que não seja apaixonado por mim (vide post “Admirador Secreto”).
O sétimo motivo é que poderei me associar ao Sílvio Santos para comprar todas as outras emissoras de TV, e assim dominar a mídia; e colocar programas de auditório com tiazonas enlouquecidas e assistentes de palco por todos os canais, em todos os horários (risada maléfica).
O oitavo motivo é eu comprar o Twitter e esbarrar com o dono das ações da Google e gritar: Rááá!
O nono motivo é que eu, sendo mais milionária do que o Eike Batista, exigirei que ele troque de nome, puta que pariu. Gente rica tem que ter nome de tal.
E o décimo motivo seria eu, fazer uma emenda à constituição que obriga todos a darem-me um centavo todos os meses. Para assim, eu ficar cada vez mais milionária e mandar prender a criatura que saiu espalhando por aí que dinheiro não traz felicidade. É pobre, só pode.





*Os motivos aqui listados não seguem uma ordem de importância.
Pelas pequenas confusões que isto possa causar, a autora pede desculpas.
Pelas grandes confusões, ela não se responsabiliza.

* * *
Sessão #beijomeliga:

beijo pros meus dedos que estão ficando de pedreiro :*



* * *
Sessão #subnick:


"Te trago os meus versos simples, mas que fiz de coração."
(Chimarruts)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Banheiros x Crianças

Banheiros de Shopping, aparentemente, têm uma relação com crianças que foge à minha compreensão.
Mas não quaisquer crianças, somente aquelas que não tem capacidade motora suficiente para ir ao banheiro sozinhas. Dois pontos.
Era uma tarde comum. Rafa e eu estávamos falando merdas à toa por dentre os corredores do Iguatemi, desperdiçando nosso bom humor com vendedoras antipáticas de papelarias. Nada de incomum – exceto o cabelo da vendedora da papelaria.
Foi quando me dei por conta de que meu casaco estava completamente melecado de milkshake de Ovomaltine, e me vi entre duas opções viáveis na situação: trocar de casaco ou tentar limpá-lo com água, empurrando a meleca mais para dentro da fibra do tecido e, então, sendo obrigada a trocar de casaco de qualquer maneira.
Dirigimo-nos até o banheiro. Como meu querido Rafa tem um pinto, não pôde adentrar o banheiro feminino e ficou me esperando do lado de fora.
A desgraça já iniciou quando tive de subir os olhos para poder enxergar o banheiro, pois há uma escada enorme que leva até a entrada. 
Fico pensando se quem desenvolveu aquele ambiente considerou a hipótese de o cidadão estar com a bexiga estourando quando vai ao banheiro, e eventualmente acabar deixando ocorrer acidentes de percurso no momento em que leva seu joelho até a altura do tórax para empuleirar-se nos generosos degraus. 
Agora, leitores, digam-me se tampouco os adultos conseguem segurar os instintos biológicos numa situação dessas, que dirá crianças e convalescentes. Antes mesmo de chegar à metade da escadaria, deparei-me com uma poça de urina alojada no canto de um dos degraus. 
O resultado disso foi eu, no exercício de minhas habilidades Jedi, dar praticamente um duplo twist carpado saltando três degraus de uma vez, para não acabar com uma mistura de urina com Ovomaltine nas orlas de meu casaco. 
Que diacho um mini-depósito de resultante de excreção renal estava fazendo ali, em pleno Shopping de zona razoavelmente nobre de Porto Alegre? 
Tal pergunta se formou na minha mente nos poucos segundos que tive para pensar, enquanto me equilibrava entre o corrimão e a parede – o lugar mais longe da urina em que consegui aterrisar.
Sem dar-me ao luxo de começar a imaginar várias explicações para o acontecido, corri meus olhos pela escadaria e vi, logo acima, uma mãe – jovem demais para tal – com um fedelho, digo, um pimpolho serelepe em seus braços, segurando suas mãozinhas rechonchudas e arteiras enquanto colocava sua cuequinha de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído – ao menos não naquela hora, naquele exato lugar. 
Tudo se fez claro, o menino havia resolvido aventurar-se a fazer xixi nas escadas. Ora, privadas para que, não é mesmo? Escadas são muito mais divertidas, aquele mármore polido quase implora para que demos o ar de nosso sistema excretório sobre sua linearidade.
Vou confessar-lhes que, após ter minha vida passada diante dos meus olhos em flashes durante minha pirueta mortal, fiquei bastante tentada a agarrar aquele moleque pelo cangote e trancar sua respiração até que ele comece a respirar pelo pinto, pra daí, fazê-lo aspirar de volta todo xixi que havia feito.
Mas então, sobrevivi. Recompus-me e voltei a subir as escadas, em direção às cabines do banheiro.
Quero deixar registrada aqui, toda a minha indignação para com a rica pessoa que resolveu colocar portas de vidro nas cabines. Foi a coisa mais ilógica que alguém conseguiu pensar, desde a candidatura do Collor para Senador. Não faz o mínimo sentido ter uma porta – que por natureza deveria separar ambientes – transparente! E para completar a ineficácia geral, há um vão entre a porta e a parede, uma fresta enorme que nos deixa com vontade de preferir a incontinência urinária a utilizar aquele banheiro.
Entrei na cabine e fechei a porta, somente com o intuito de trocar de roupa sem dar na vista do pessoal que me viu dando uma de Daiane dos Santos na escada.
 Pendurei a bolsa e virei-me. O foco da minha visão foi imediatamente fixado na cabeça de uma criança maluca que havia se enfiado por debaixo da porta.
Aliás, há, propositalmente, um vão gigantesco entre a porta e o chão, só para a pessoa sair do banheiro e passar direto na primeira loja de calçados que encontrar, para não ter de ser reconhecida pelos sapatos - deixados à mostra durante o tempo que se está dentro da cabine. 
Ou vocês acham que a Paquetá está localizada bem em frente ao banheiro do segundo andar do Iguatemi por ironia do destino?
Quando olhei para a cara do menino – atenção especial para o gênero do substantivo em questão – e tomei oxigênio para dar um grito, algo que possivelmente era sua mãe puxou-o pelas pernas; fiquei ali totalmente sem reação. Não sabia se gritava ou se pulava, se casava ou se comprava uma bicicleta. Era um banheiro feminino e eu, por alguma razão, estava horrorizada com a hipótese de o menino ter flagrado-me desnuda ou algo do gênero.
Troquei, de uma vez por todas, de roupa e saí porta afora diretamente às pias, sem olhar para os lados. Não mais sabia o porquê de eu estar lavando as mãos, já que somente havia feito uma troca de roupa. 
É provável que eu estivesse apenas tentando esquecer a feição demoníaca daquela criança debaixo da minha porta. Comecei a imaginar cenas daquela mãe convivendo com aquele gremlin dos infernos no dia-a-dia. Pobre moça. Bem que na bíblia está escrito que o fruto do pecado é a morte. O fruto do pecado daquela moça com o algum macho por aí estava, definitivamente, aniquilando sua vida social.
Decidi sair daquele ambiente, antes que atraísse qualquer carma de conhecimento do bem e do mal
Saí de lá com algumas conclusões filosóficas sobre a vida - porque pessoas com blogs decentes fazem isso, filosofam sobre os acontecimentos e não só os jogam ao Deus dará em textos inócuos.
Minha primeira conclusão foi que devo parar de tomar milkshakes, para não ter de melecar a roupa e trocá-la em banheiros com crianças com a taxa de glicose alta demais.
Minha segunda conclusão foi que devo levar vários metros de papelão para o Iguatemi, no caso de eu precisar satisfazer necessidades fisiológicas renais em cabines com portas de vidro.
E a conclusão geral do texto foi: não tenha filhos. 
Mentira, tenha-os sim. Só que, particularmente, sou a favor a adoção posposta aos dezoito anos e, de preferência, de filhos bastardos do Eike Batista, para poder recorrer da herança rechonchuda mais tarde.





* * *
Sessão #beijomeliga:

beijo pro Chico, meu violão novo <3
VOSSE EH LINDU BRAZIU


Sessão #subnick:

"Quando a gente tá contente, tanto faz o quente, tanto faz o frio, tanto faz."
(Gal Costa)

*homenagem ao clã <3

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Rá Tim Bum

Crianças, na realidade, só servem para duas coisas: revelar-nos o quanto estamos acima do peso, e convidar-nos para festinhas recheadas de empadas e balas setebelo para poder, então, dizer-nos novamente o quanto estamos acima do peso.
Em um desses domingos comuns, com seus programas, costumes e até cheiros característicos, eu me encontrava indo em direção ao salão de festas. Passo por passo me aproximava, e a gritaria eufórica ficava cada vez mais audível. Andava e minha visão periférica aumentava, e assim eu avistava mais crianças correndo enlouquecidamente. Uma, inclusive, corria em círculos. Começava a ficar amedrontada, já. Tive até a impressão de ter visto uma menininha girando sua cabeça trezentos e sessenta graus, manifestando sua aprovação ao sabor das várias balas de goma coloridas, deglutidas vorazmente de uma só vez.
Cheguei ao salão de festas. Procurei o aniversariante e entreguei-lhe o presente. Felizmente, o aniversariante era meu primo - uma criança das que se salva dentre as crianças-demônio que existem neste Brasil – que pegou o presente, mal passou os olhos e já disse que havia gostado.
No caso de crianças ordinárias desta idade, aconteceria mais ou menos assim:

-Oi, fulaninha! Feliz An...
-Cadê meu presente?
-Er... está aqui. Feli...
-O que é? O que? Han? Han? Han?
-Abra o pacote, e verá! E Feliz Ani... deixa pra lá.

Então, a doce criança leva a fita que envolve o presente à boca, e a estraçalha, como um cão raivoso, a fita e todo o pacote, que provavelmente havia custado caro.

-O que é isso?
-É um pijaminha para você! - risos de satisfação.
-Pijama? Eu queria o novo Xbox... dsá.

Daí, a criança joga o presente no chão, pisa em cima e sai correndo atrás de um pernilongo que avistou por ali, para tentar apanhá-lo com os cotovelos.

Iniciei minha busca por uma mesa estrategicamente localizada entre a mesa das guloseimas, e a saída. Sentei-me e comecei a observar que há algumas figuras, dentro do ambiente hilari-lari-ê das festinhas infantis, que são bastante constantes, e diria até que se tornaram essenciais ao longo do tempo. Constatei que há sempre algum parente que é o centro das fofocas da família. Há, também, sempre uma tia gordinha que finge que vai cumprimentar alguém do outro lado do salão várias vezes, só para passar pela mesa dos salgadinhos. Tipicidades encontradas na maior parte das festinhas infantis, que eventualmente acabam sendo praticadas por nós mesmos. Eu, por exemplo, encaixava-me nos dois perfis. Ao unir o útil ao agradável, ia de um lado ao outro do salão de festas para rebater algum comentário infame sobre meu cabelo, e aproveitava para fazer um arrastão nos cachorrinhos-quentes sobre a mesa.
Entretimentos haviam dos mais variados, da mesa de Pebolim à cama elástica. Não preciso nem mencionar que fui diretamente à moça de boné colorido para perguntar-lhe se era possível eu, com toda idade, altura e circunferência, pular na cama elástica. Para minha surpresa, tive minha entrada autorizada. Pulei. Resultado: dois aprendizados para levar na vida. O primeiro é que se você enche seus bolsos com balas de goma, é no mínimo inteligente que não pule em camas elásticas, para que as balas não saltem pelos ares, revelando assim, toda a sua gulodice. O segundo aprendizado é seguir esta ordem cronológica: parar de pular e, assim, catar as balas de volta. Tentar pegar as balas enquanto  pula, não funciona.
Depois que já se está lá, aniversários não são ruins. Posso me sentir no Armagedom no meio da criançada, analisando cada centímetro da cadeira em que vou sentar, para ver se não há taxinhas pontiagudas e bexigas-de-pum. Posso também me sentir intimidada pela quantidade de gente desconhecida que encontro nestas festas, ou até pela quantidade de gente conhecida que encontro e me dou conta de como esse mundo é pequeno. Posso, até, me sentir cansada depois de jogar conversa fora, sair engatinhando à catar minhas balas pela cama elástica, e bolar planos estratégicos para ninguém notar que metade da torta sumiu.
Entretanto, no fim das contas compensa. Fiz um primo, junto à uma tropa de familiares, feliz. 
E os risoles estavam bons.










* * *
Sessão #beijomeliga:


beijo pra todo mundo lol
uhauhaua


Sessão #subnick:


"Nem me crie mais problemas."
(Maria Rita diva)