Talvez sejam as paredes brancas, os corredores longos com portas dispersas, ou então a hipótese de morrer de infecção hospitalar enquanto faz um exame de sangue.
Ontem à tarde tive de ir ao médico, devido ao enorme desconforto que me tomava. Febre, talvez. Dor de cabeça horrível. Dores espalhadas pelo corpo. Nosso sistema imunológico é muito interessante; o que possivelmente fosse um resfriado comum, estava causando um tilt no organismo e me deixando totalmente prostrada. Resolvi que tomaria alguma atitude.
Primeiro passo a tomar quando se fica doente é comunicar à autoridade judiciária competente: minha mãe. Me vi, com dezenove anos na cara, chamando pela mamãe.
Se você, caro leitor, não gosta de frenquentar hospitais, consulte a sabedoria Jedi de dona Neila. Ela tem remédio pra tudo. Receitas caseiras para sanar desde gripe até Cancer. A gripe suína (H1N1) só foi controlada, por que minha mãe concedeu ao governo umas de suas canjicas milagrosas. Aidis? Moleza. Leucemia? Não me venha com pouca coisa. Minha mãe patenteou a Aspirina e o Paracetamol. Dizem as más linguas que ela tem 400 anos de idade, e que sobreviveu à Peste Negra, graças à colherada de mel com limão que toma todas as manhãs.
Resolvemos então que iriamos ao médico, pois “eu estava com todos os sintomas de sinusite”. Minha mãe, além de tudo, faz diagnósticos.
Chegamos, e já fomos encaminhados à sala de espera. Não consegui evitar: comecei a observar tudo.
É provável, caros leitores, que eu sempre acabe escrevendo sobre qualquer assunto como se o mundo conspirasse contra mim, com Illuminatis e tudo que tem direito. Porque, obviamente, sou uma pessoa egocêntrica.
Aquelas paredes brancas e longas me deixam muito perturbada. Não sei bem o que me lembram, mas tenho a nítida impressão de que as luzes vão apagar de repente e eu vou acordar no outro dia, mergulhada numa banheira de gelo em algum lugar da Tailândia, sem os rins.
Ninguém me tira da cabeça que médicos são assassinos-em-série profissionais, na real. Mas nada de Hannibal Lecter, me refiro a psicopatas de ultimo tipo!
Eles têm nossas vidas em mãos, meudeusdocéu. Se algum médico me disser que se eu aspirar a fumaça das erupções freáticas dos vulcões, ficarei curada da bronquite, é provável que eu vá.
Você pensa que vai fazer um exame de sangue regular, mas na realidade, aquele sangue dará origem à diversos clones super desenvolvidos seus que no futuro tomarão sua família, sua casa e sua conta bancária.
E a médica que vinha me atender tinha, sem sombra de dúvida, uma feição assassina.
Tinha o cabelo escuro, preso pra trás – primeira característica. Cabelos no rosto devem atrapalhar a concentração quando se está esfaqueando alguém.
Era bem gordinha e baixa. Certemente, excesso de carne humana na alimentação.
Seu andar era corcunda, e pendia para o lado direito. Não chegava ser manca, mas sua perna esquerda parecia pesar mais ao caminhar. É provável que ela seja destra, e use demasiadamente o pé direito para chutar corpos Guaíba adentro.
Meu nome, saindo dos lábios finos e enrugados daquela mulher soou um tanto fúnebre.
- Jéssica Motta, a sua hora chegou.
Gelei.
Não havia qualquer outra expressão de vocabulário para utilizar naquele momento? É pra matar a ruiva do coração.
-Venha comigo.
Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino...
Nunca é tarde pra tentar ir para o céu, brasil.
Entrei na sala. Já estava paranóica. Via um estetoscópio com um instrumento de tortura, e o aparelho de medir a pessão como um uma bomba-relógio, pronta pra explodir a qualquer momento.
Mantenha a calma, Jéssica! Está tudo na sua cabeça.
A doutora mandou-me sentar para uma nebulização. Aquele gás branco me remetia à filmes sobre holocaustos. Olhei para a doutora: Nazista. Tive até a impressão de ter visto uma Suástica tatuada no pulso. Ainda por cima viu minha pulseirinha do arco-íris. Tou fodida.
-Estenda o braço.
-Oi?
-Estenda o braço, para que eu possa dar lhe o antibiótico na veia.
Oi? Agulhas? Ai, Cristo.
Olhei para aquela seringa e já vi tudo. Iam me aplicar um boa-noite-cinderella direto na veia e vender meus órgãos no mercado negro.
- O que é isso no seu pulso?
- É o nome da minha filha, tatuado - respondeu, toda sorridente.
- Mas em formato de Suástica?
- Quem?
- Deixa pra lá.
O psicológico é algo fora do sério. Juro pra vocês que até me senti meio tonta depois que me injetaram o antibiótico. Deu barato... deu barato. Era do bom.
-Prontinho. Já está liberada.
Acabou? Ah, como eu sou dramática. Estava já saindo do consultório viva, com todos o membros no devidos lugares e sem cicatrizes.
Foi quando a doutora colocou um saco plástico na minha cara, enquanto a enfermeira acorrentava meus pulsos e me puxava de volta para a sala.
Mentira.
Deu tudo certo mesmo, estou viva, linda e absoluta.
* * *
Sessão #beijomeliga:
beijo pra vocês, seus lindos! <3
Sessão #subnick:
"Quando bate a saudade, corro pro mar. Fecho os meus olhos e sinto você chegar."
(A Estrada- Cidade Negra/Maria Gadú)