Publicada!

Eis aí, a crônica Henriquística que prometi. Apoveitem! ;)

" Decepcione

A última novela das oito que havia me prendido foi “A Favorita”, em 2008, uma ótima estréia de João Emanuel Carneiro no horário nobre. Depois, veio Glória Perez com sua fraca “Caminho das Índias” e Manoel Carlos com o mais-do-mesmo em “Viver a Vida”. Então, logo que surgiram as primeiras chamadas da novela “Passione”, me animei: afastado desde 2005, quando escreveu a belíssima “Belíssima”, Sílvio de Abreu estaria de volta. A direção de núcleo voltaria com Denise Saraceni e o papel principal da trama novamente seria assumido pela diva Fernanda Montenegro. Ingredientes bons não faltam para essa paixão decolar.

Mas com duas semanas no ar, juro que tento assistir (e gostar do que assisto), mas volta e meia me surpreendo baixando o volume da tevê ou levantando do sofá. “Passione” ainda não encontrou o rumo certo, não empolgando ninguém. O que vemos na tevê são ótimos atores num baile de cenas fracas e apelativas. Como conseqüência desse desastre inicial, a audiência é a pior dos últimos anos e continua caindo, dia após dia. Vejamos os pecados da novela:

Um núcleo de atores composto, entre outros nomes, por Tony Ramos, Aracy Balabanian e Mariana Ximenes passou 25 dias na região de Toscana, na Itália, para gravar os primeiros capítulos da história. Os diálogos desses personagens foram escritos originalmente em italiano e depois adaptados ao português. Não deveria ser ao contrário? Muitas vezes, conversas inteiras se fazem incompreensíveis, ou pelas expressões italianas ou pela ruim dicção dos atores. Abreu não consegue repetir com o italiano aquilo que havia dado certo na língua grega, em “Belíssima”

A média de idade do elenco é muito alta. Não é preconceito contra os “velhinhos”, mas às vezes passam-se blocos inteiros com Francisco Cuoco, Irene Ravache, Flávio Migliaccio, Elias Gleizer, Leonardo Villar e Cleyde Yáconis. Obviamente os diálogos são mais arrastados e as cenas são mais monótonas (principalmente entre Leonardo e Cleyde). Coisas do tipo “você está ficando surdo...” poderiam dar lugar à jovialidade de Carolina Dieckmann, Larissa Maciel e Marcelo Médici – ainda apagados na trama.

Outras coisas não combinam: o personagem de Mauro Mendonça é filho de Leonardo e Cleyde, sendo que a diferença na vida real é de apenas seis e nove anos, respectivamente. Tony Ramos e Mariana Ximenes como par amoroso é excessivamente forçado. Larissa Maciel e Bianca Bin como irmãs também é estranho (nessa relação acredito que nem tudo está contado).

Reynaldo Gianechinni está bem no seu vilão, mas o sotaque não combina e é desnecessário; em algumas cenas até remete ao mecânico Pascoal de “Belíssima” – dois personagens completamente distintos. Gabriela Duarte está sofrível em seu papel cômico, com seus gritos histéricos e a sua vontade insaciável de sexo. Por falar nisso, será que a personagem de Maitê Proença sabe fazer alguma coisa que não seja transar com garotões? Já Daisy Lúcidi repete aquela vizinha fofoqueira de “Paraíso Tropical”; que personagem chato! E Fernanda Montenegro não está sendo aproveitada como deveria.

Como pontos positivos da trama, temos Werner Schünemann no papel do prepotente Saulo; Aracy Balabanian na sua sofrida Gemma Matolli e Vera Holtz (que sempre rouba a cena) na divertida Candê. As novatas Mayana Moura, Bianca Bin e Carol Macedo surpreendem. Carolina Dieckamnn, Alexandra Ritcher e Cauã Reymond prometem ter boas atuações. E a carta guardada na manga é a seqüencia de assassinatos que está por começar.

Como “Passione” ainda está no início, é provável que a trama ache seu caminho e consiga corresponder as minhas expectativas iniciais. Silvio de Abreu e Denise Saraceni têm capacidade para isso. O núcleo de atores idem. E o enredo central da trama não é inovador, mas é interessante. Até lá, só nos resta assistir e esperar para ver – literalmente.

Henrique Araujo – 01/06/2010"

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