Às
vezes eu, sentada mesmo, paro e olho pros meus peitos.
Gratificantes,
como diria um amigo meu, mas infelizmente não é só isso que eu
vejo. Olho pra mim e só sobrou um ódio encolhido, tímido,
reprimido pela decepção. Como se quem se decepciona tivesse
preguiça de sentir ódio, simplesmente por não valer o esforço.
Lembro
de não lembrar-me de como isso ficou tão arraigado em mim. De
verdade, não lembro. Passei de estar empurrando cotidianos com a
barriga para viver com a sensação que não há outro jeito de viver
bem.
Até
porque, convenhamos, bem é um status totalmente relativo.
Eu,
que penso de mais, me julgo bem, quando não vivo fugindo de um
pensamento ou de outro, maior parte do tempo. Isso, pra mim, é viver
tranquila. Problemas todo mundo tem!
Eu,
por exemplo, não julgo que ando vivendo na mais plena tranquilidade
por estar fazendo dieta há meses, planejando o que como, ou não, o
tempo todo. Isso não é vida, né. Agora, também não julgo como
plena felicidade sair pra comprar roupas e elas me escolherem, ao
invés de eu as escolher. Isso sim, certamente não é vida
tranquila. Daí no contraste, prefiro contar uns pontinhos daquelas
laranjas vermelhas menstruadas, certamente.
Há
um desespero absurdamente interno em mim, tão sincero. Não sei o
que fazer com ele. Resolvi que vou fazer uma dieta de desespero.
Todos
os dias eu conto pontos: mentiras equivalem a uns 15 pontos,
indiferença, 10, egoísmo e imaturidade somam aí uns 25 pontos.
Minha cota diária não passa de 20 pontos, pra mera sobrevivência e
continuidade da dieta. Conclusão geral? Risos.
Exato,
a conclusão de tudo isso é rir pra não chorar. Não há como me
manter, todos os dias, com essa cota tamanha de pontos, vou ficar
gorda! Sentimentalmente gorda, inflada de desespero. E o desespero é
deveras perigoso, amanhã ou depois vou precisar de uma ponte de
safena de urgência por estar com as veias entupidas dele, por não
conseguir dosá-lo durante os dias.
Do
nada fui obrigada a lidar com tudo isso. Sozinha. Faz parte da vida,
né? Não é porque eu jamais faria isso ou aquilo, com qualquer
pessoa, que outras pessoas vão pensar como eu. As pessoas
são diferentes. Cabe a mim, aceitar os fatos. Dar um jeito de
encaixar tantos pontos diários em minha dieta de desespero. Um dia
acaba, um dia. Vejo na minha frente esse rancho todo, ganhei essa
cesta básica todinha pra mim, e todo o tempo vou consumindo, na
esperança de que um dia acabe.
E que
outra cesta básica venha, mas uma light. Cheia de coisas novas,
vindas de um super-mercado diferente.
Aí,
quem sabe eu viva bem. Aquela vida pretendida. Não uma vida de
fuga. Não uma vida de escolher pensamentos que não me façam sentir
como a pessoa mais idiota da face da terra. Escolher pensamentos a
dedo, cansa. Preguiça do meu ódio, cansa. Ver que foi somente um
ciclo que se repetiu, cansa demais. É no momento que mais preciso de
férias e sorvete, me vejo cercada de cestas básicas pra consumir e
dietas.
Viver
assim, com o peito pesado, cansa.
Mas
isso é porque meus peitos são grandes demais, é claro.
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