sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De Corpo Presente

De mansinho, pé por pé, catei uma cadeira e me sentei.
Saltos altos não são muito convenientes quando se quer andar sem ser notada e só me dou conta disso no exato momento em que estou sendo notada. Ouvi dizer que essa história de andar empuleirada em saltos surgiu na corte francesa, em meados do século 17. Também ouvi que antes disso os chineses já utilizavam sapatos altos – o que é bastante óbvio, todo mundo sabe que nós ocidentais somos seres subdesenvolvidos, somente capazes de usufruir das criações orientais. Mas nem chineses nem franceses consideraram o constrangimento, e toda a vermelhidão facial, que os poc poc poc do meu salto estavam causando enquanto eu chegava atrasada ao auditório – vou meter um processo nesses gringos por, sei lá, desequilíbrio-do-fluxo-sanguíneo-causado-pela-concentração-de-sangue-na-face-em-detrimento-do-resto-do-corpo.
Enfim, fingi que nem liguei pro pessoal me olhando e me ajeitei na cadeira. 
Descobri que havia perdido a parte que mais gosto em formaturas: a entrega de canudos. Um misto de tristeza por ter perdido as músicas clichê e depressão por saber que agora só restavam os intermináveis discursos dos paraninfos por vir, tomou o meu ser. Como eu, que havia passado a semana toda com vontade de ouvir “A Estrada” do Cidade Negra e “Pescador de Ilusões” do Rappa, poderia ter chegado atrasada o suficiente para não acompanhar a entrega de canudos? Inaceitável. 
Num intuito de autoflagelação, decidi que iria prestar atenção em cada palavra proferida pelos oradores e paraninfos.
Chamaram o orador da primeira turma – havia mais de uma. Até o momento, nada de crises de deficit de atenção. Agradecimentos aos colegas, professores, diretores, funcionários da biblioteca, faxineiros, guardas noturnos e fiscais do estacionamento da padaria da frente da faculdade. 
Foi quando a moça sentada à minha frente resolveu soltar o cabelo. Loiro e longo. Cor? Básica, mas legal. Corte? Péssimo. Todo mal repicado, torto, certo que fora cortado com a tesoura sem ponta da Eliana que vem com a sandália. Ih, dispersei. Meu pensamento já estava longe, longe o bastante para não ser preso por ter imaginado algumas inconstitucionalidades para com o cabeleireiro daquela loira.
Pronto, voltei a atenção ao palco.
Mas que palco legal, hem? Luzes legais. Decoração de formatura é sempre mais ou menos a mesma, mas aquela estava mais luxuosa; mais tecidos espalhados pelas paredes e flores naturais por todos os lados. E que chão bonito... tão... reto. Que trabalhão deve dar construir um auditório. Será que o pedreiro que construiu, tijolo sobre tijolo, essas paredes imaginou que tantas pessoas se formariam ali? Será que ele sabia que seria para esse propósito? Tijolo é uma palavra engraçada, não é mesmo? Ih, dispersei de novo. Volta, Jéssica.
Ok, agora quem falava era uma das 8765435678765 paraninfas, e aparentemente estava findando o discurso.
Típicas piadas internas, sarcasmos e eufemismos em geral. Tudo que é relativamente comum em uma sala de aula, vira mágico colocado em palavras rebuscadas de uma bela oração. Parei de ouvir as palavras da paraninfa quando resolveu usar a palavra “sublime” e “questionamentos em aula” na mesma sentença. Não respeito quem tenta transformar o dia a dia estudantil em uma epopeia digna de Camões. E também não respeito quem usa a palavra “sublime” em qualquer situação que não envolva a descrição de alguma sobremesa.
Comecei a lutar com meus pensamentos. Enquanto ele tentava com todas as forças focar em qualquer mosquito que ali passasse, eu o trazia imediatamente de volta. 
A moça do cabelo picoteado atraía meus olhos, e logo eu chacoalhava a cabeça e me concentrava nas palavras do mestre de cerimônias. Eu era puxada em duas direções. Cabelo. Discurso. Decoração. Palmas. Que cadeira bonita. Iremos agora fazer uma homenagem aos pais dos alunos. Bá, esse teto é de gesso puro. Peço que se levantem para cantar o hino rio grandense. Nossa, como minhas pernas são brancas. Declaro agora encerrada esta solenidade.
Oi? Acabou? Ok, vamos pra pizzaria.




"E eu querendo querer-te sem ter fim."
(O Quereres - Caetano)

6 comentários:

  1. Porra, muito foda. Coitada da menina do cabelo picotado, hahaha. Que chão ... tão ... liso. hahahaha, foda mesmo meu. Sem atenção! O teto não era puro gesso, e tijolo é tri engraçado.
    Beijos <3

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  2. adoreiiiiiiiii sapata *---*
    parabéns, fico feliz que o chico xavier voltou \o/
    bjossssssssss

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  3. ADIOUNASIUDNAIUSN adoreeeei meu amouuur
    morri rindo com " Todo mal repicado, torto, certo que fora cortado com a tesoura sem ponta da Eliana que vem com a sandália. "
    como tem dessas pessoas, essas tesouras deveriam ser banidas por lei
    como sempre só me da orgulho (L)
    hahahaah

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  4. "não respeito quem usa a palavra “sublime” em qualquer situação que não envolva a descrição de alguma sobremesa" UAHUAHUAHHUAHUAHUA :B
    adogay, e tijolo é mesmo uma palavra engraçada... sempre achei.
    bezo ;**

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  5. ahuhsuahsuhaushuasuahs!!!

    ADoOoro!!!

    Mas FATO. Formatura é Tédio.com
    Segredinho: eu não prestei atenção neem na miinha formatura, haha...

    Maas óteema postagem, coomo sempre... poizeh né? Auditórios, são no mínimo tensos pra serem construídos, baita pó, baita barulho, monte de pedreiro fazendo piadinhas fail pra toda loira que passa. A propósito, falando em loiras, são poucas as falsas loiras que conseguem acertar a cor do loiro pra sua pessoa #tenso...
    Bueno, corte de cabelo é a mais tenso ainda, tem uns pobre cabelereiros que tiraram o diploma na farmácia de esquino com a máquina do vizinho e acham que estão prontos... hahaha, doce e POBRE, literalmente, ilusão... O lamentável que tem ainda umas figuras fora do baralho que vão nesses né?!

    mas olha só, lá vim eu filosofar no blog alheio, trágico...
    Sabe que é.. É que eu AMO teus posts (L)

    Bjaum Curega Gata de "mai laifê"

    Thasci Caiel, vulgo Sopão, GoXtosa para os íntimos, ahahsuas
    (noossa fazia tempo que não falava isso, acho que é porque tou feliz, sim, acho que vi o passarinho verde =P)

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  6. Se eu fosse o Pedro Ernesto Denardin, eu diria que tu é "DEMAAAAAAAAAISSSSSSSS!"

    Mas, como eu não sou o Pedro Ernesto, vou dizer apenas que tu é DEMAIS!

    Show de bola, fez a descrição perfeita de uma formatura (ou qualquer outra solenidade boboca).

    Beijo!

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